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A história se repete e o Oscar será, mais uma vez, uma cerimônia para pessoas brancas


Pelo segundo ano consecutivo, o Oscar será uma celebração do trabalho de pessoas brancas na indústria cinematográfica. E isso precisa ser discutido.

No ano passado, quando foram anunciados os indicados ao Oscar, a hashtag #OscarsSoWhite logo se tornou um dos assuntos mais comentados no Twitter. Ela trazia a revolta do público com as escolhas dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que indicou, depois de 20 anos, apenas atores brancos nas quatro categorias de atuação. Indo além, nenhuma mulher foi indicada nas categorias técnicas de direção, roteiro e fotografia.

E depois de um 2015 marcado por pedidos de diversidade em Hollywood, tendo Spike LeeViola DavisJessica ChastainCate Blanchett e Ava DuVernay, reclamado, publicamente, por uma representação maior de minorias, os membros que compõem o Oscar indicaram, mais uma vez, apenas atores e atrizes brancas nas categorias de atuação. Mas isso não é tudo.

Embora “What Happened, Miss Simone”, da Netflix, tenha sido indicado a ‘Melhor Documentário’, quem o dirigiu foi Liz Garbus, uma mulher branca. “Straight Outta Compton”, que narra o início de um grupo de rap, foi indicado a ‘Melhor Roteiro Original’, mas quem o assina são Jonathan Herman e Andrea Berloff, duas pessoas brancas. “Creed: Nascido Para Lutar” levou uma indicação de ‘Ator Coadjuvante’, pelo trabalho de Sylvester Stallone, que reencarnou o icônico personagem Rocky Balboa.

Em outras palavras: filmes que contam histórias de pessoas negras foram indicados, porém, foram as pessoas brancas que tiveram seu trabalho reconhecido.

E não é como se não houvesse boas escolhas. Samuel L. Jackson (“Os 8 Odiados”), Michael B. Jordan e Tessa Thompson (“Creed”) e Idris Elba (“Beasts of No Nation”) foram todos muito elogiados por suas performances em suas respectivas produções. Ryan Coogler, diretor e roteirista de “Creed”, também foi aplaudido por seu trabalho. Mas, para a Academia, não foram bons o suficiente.

Na categoria ‘Melhor Diretor’, Alejandro G. Iñarritú será o único a representar “os outros”, pois todos os outros sete indicados na categoria são homens brancos (Iñarritú é latino e, portanto, considerado “uma pessoa de cor”, ou uma pessoa que não é considerada branca nos Estados Unidos). E, claro, não houve mulheres indicadas nessa categoria de novo.

Porém, as indicações ao Oscar podem não surpreender tanto quando levamos em consideração quem escolhe os “melhores” do ano no cinema. Um estudo do jornal Los Angeles Times, mostra que 94% dos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas são brancos e 77% deles são homens. Negros correspondem a apenas 2%, percentual ainda maior do que o de latinos, que representam menos de 2% do total. A idade média deles é de 62 anos.

“Nós reconhecemos que temos trabalho a fazer”, afirmou o diretor Phil Alden Robinson, um dos membros da Academia, entrevistado pelo Los Angeles Times. “[Mas] Nós começamos com uma mão atada. Se a indústria, como um todo, não abre suas portas, é muito difícil para nós diversificarmos nossos membros.”

De fato, a falta de diversidade dentro da Academia reflete a falta de diversidade de Hollywood. Um estudo da Universidade do Sul da Califórnia (USC) de 2015 apontou que mulheres, negros e demais minorias encontram poucas oportunidades na frente e atrás das câmeras. O motivo, segundo um relatório da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), é a falta de investimento de diversidade dentro de agências, sindicatos, estúdios e redes de televisão, que perpetuam uma cultura “que desvaloriza rotineiramente o talento de mulheres e minorias.”

Isso tudo influencia nas escolhas dos atores, roteiristas, diretores e demais pessoas que trabalham na indústria cinematográfica, o que resulta naquilo que vemos nos cinemas (muitos filmes de homens brancos e heterossexuais, como afirmou Ava DuVernay) e, por sua vez, nos indicados ao Oscar.

Cheryl Boone Isaacs, mulher negra e presidente da Academia, está ciente disso e firmou um compromisso de melhorar a diversidade no cinema ao lançar a iniciativa A2020 no ano passado, cujo objetivo é aumentar a representação de gênero, raça, orientação sexual e idade em Hollywood. “Quando se trata de representação justa e igualitária na nossa indústria, palavras não são suficientes”, ela disse durante o 7º Governors Awards, em 2015. “Nós também temos responsabilidade de tomar ações e temos uma oportunidade de fazer isso agora.”

Por enquanto, foram só palavras. O Oscar 2016 será mais uma cerimônia para pessoas brancas. Contudo, o evento, que será transmitido no dia 28 de fevereiro, será apresentado pelo comediante Chris Rock, conhecido por criticar a falta de diversidade em Hollywood. Com certeza, o ator fará alguma piada sobre isso, mas é passada hora de ouvirmos discursos. Queremos ações. E agora.

Confira a lista de indicados abaixo:

Melhor filme:
“A Grande Aposta”
“Ponte dos Espiões”
“Brooklyn”
“Mad Max: Estrada da Fúria”
“Perdido em Marte”
“O Regresso”
“O Quarto de Jack”
“Spotlight: Segredos Revelados”

Melhor ator:
Bryan Cranston – “Trumbo”
Matt Damon – “Perdido em Marte”
Leonardo DiCaprio – “O Regresso”
Michael Fassbender – “Steve Jobs”
Eddie Redmayne – “A Garota Dinamarquesa”

Melhor atriz:
Cate Blanchett -“Carol”
Brie Larson – “O quarto de Jack”
Jennifer Lawrence – “Joy”
Charlotte Rampling – “45 anos”
Saoirse Ronan “Brooklyn”

Melhor ator coadjuvante:
Christian Bale – “A Grande Aposta”
Tom Hardy – “O Regresso”
Mark Ruffalo – “Spotlight: Segredos Revelados”
Mark Rylance – “Ponte dos espiões”
Sylvester Stallone – “Creed”

Melhor atriz coadjuvante:
Jennifer Jason Leigh – “Os 8 odiados”
Rooney Mara – “Carol”
Rachel McAdams – “Spotlight: Segredos Revelados”
Alicia Vikander – “A garota dinamarquesa”
Kate Winslet – “Steve Jobs”

Melhor diretor:
Alejandro G. Iñárritu – “O Regresso”
Tom McCarthy – “Spotlight: Segredos Revelados”
George Miller – “Mad Max: Estrada da Fúria”
Adam McKay – “A grande aposta”
Lenny Abrahamson – “O quarto de Jack”

Melhor animação:
“Anomalisa”
“O Menino e o Mundo”
“Divertida Mente”
“Shaun, o Carneiro”
“Quando Estou com Marnie”

Melhor filme estrangeiro:
“Embrace of the Serpent” (Colômbia)
“Cinco Graças” (França)
“O Filho de Saul” (Hungria)
“Theeb” (Jordânia)
“A War” (Dinamarca)

Melhor trilha sonora:
“Ponte dos Espiões”
“Carol”
“Os 8 Odiados”
“Sicario”
“Star Wars: O Despertar da Força”

Melhor roteiro adaptado:
“A Grande Aposta”
“Brooklyn”
“Carol”
“Perdido em Marte”
“O Quarto de Jack”

Melhor roteiro original:
“Ponte dos Espiões”
“Ex Machina”
“Divertida Mente”
“Spotlight: Segredos Revelados”
“Straight Outta Compton”

Melhor design de produção:
“Ponte dos Espiões”
“A Garota Dinamarquesa”
“Mad Max: Estrada da Fúria”
“Perdido em Marte”
“O Regresso”

Melhor fotografia:
“Carol”
“Os 8 Odiados”
“Mad Max: Estrada da Fúria”
“O Regresso”
“Sicario”

Melhor figurino:
“Carol”
“Cinderela”
“A Garota Dinamarquesa”
“Mad Max: Estrada da Fúria”
“O Regresso”

Melhores efeitos visuais:
“Ex Machina”
“Mad Max: Estrada da fúria”
“Perdido em Marte”
“O Regresso”
“Star Wars: O Despertar da Força”

Melhor montagem:
“A Grande Aposta”
“Mad Max: Estrada da Fúria”
“O Regresso”
“Spotlight: Segredos Revelados”
“Star Wars: O Despertar da Força”

Melhor edição de som:
“Mad Max: Estrada da Fúria”
“Perdido em Marte”
“O Regresso”
“Sicario”
“Star Wars: O Despertar da Força”

Melhor mixagem de som:
“Ponte dos Espiões”
“Mad Max: Estrada da Fúria”
“Perdido em Marte”
“O Regresso”
“Star Wars: O Despertar da Força”

Melhor curta de animação:
“Bear Story”
“Prologue”
“Sanjay’s Super Team”
“We Can’t Live Without Cosmos”
“World of Tomorrow”

Melhor curta de live action:
“Ave Maria”
“Day One”
“Everything Will Be Okay (Alles Wird Gut)”
“Shok”
“Stutterer”

Melhor cabelo e maquiagem:
“Mad Max”
“The 100-year-old Man Who Climbed Out the Window and Disappeared”
“O Regresso”

Melhor documentário:
“Amy”
“Cartel Land”
“The Look of Silence”
“What Happened, Miss Simone?”
“Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom”

Melhor documentário de curta-metragem:
“Body Team 12”
“Chau, Beyond the Lines”
“Claude Lanzmann: Spectres of the Shoah”
“A Girl in the River: The Price of Forgiveness”
“Last Day of Freedom”

Melhor canção original
“Earned It”, The Weeknd – “Cinquenta tons de cinza”
“Manta Ray”, J. Ralph & Antony – “Racing extinction”
“Simple Song #3”, Sumi Jo e Viktoria Mullova – “Youth”
“Writing’s on the Wall”, Sam Smith – “007 Contra Spectre”
“Til it Happens to You”, Lady Gaga – “The Hunting Ground”

Por Prosa Livre


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