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Harry Styles, o futuro rock star que você respeita


Harry Styles: uma das maiores promessas da música pop contemporânea

Às vezes, as melhores surpresas vêm de onde a gente menos espera. Foi o que aconteceu em 2015, quando o mundo se viu inesperadamente rendido ao ‘Purpose’, último álbum do, então, musicalmente subestimado Justin Bieber – o cara que começou cedo, se firmou sobre uma intensa fanbase adolescentes e cujo crescimento ninguém pretendia levar tão a sério. As boas músicas do cantor canadense, no entanto, renderam ao seu último disco uma avalanche de boas críticas ao redor do globo, fazendo muito rapagão repensar os preconceitos e rever o que antes julgavam se tratar de “coisa de menina”. Com o lançamento do primeiro projeto solo, Harry Styles, ex-membro da One Direction, tem tudo para seguir um caminho semelhante – e quiçá, ainda melhor. Em dez músicas o jovem cantor inglês mostra não apenas que cresceu, mas que, aguardem, tem tudo para ser o próximo rock star.

O homônimo ‘Harry Styles’ é mais do que um simples pontapé para uma carreira solo, como foi o genérico Mind of Mine de Zayn no ano passado. Lançado no dia 12 de maio pela Columbia e Erskine, em plataformas que vão do vinil até o download digital, o álbum de Styles é quase uma porta de entrada das novas gerações rumo ao clássico rock inglês, o qual desde os tempos de boy band o cantor já mostrava interesse e familiaridade (taí o vestuário diferente, a característica rouquidão e os cabelos cumpridos que não nos deixam mentir). Quem não conhece a sonoridade que levou alguns dos maiores ícones dos anos 60 e 70 ao estrelado, aliás, deve se despir dos preconceitos e abrir o coração: a proposta do nosso ex-1D é um conjunto de grandes inspirações e belas homenagens.

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‘Harry Styles’ nos apresenta muito de Beatles, bastante de Rolling Stones, traz um toque de Queen e uma pegada gostosa de David Bowie. Quem prestar atenção vai perceber um toque de Stevie Nicks, uma coisa meio Lou Reed e uma referência clara à sonoridade de Elton John em uma das músicas. Como se não bastasse, o trabalho do jovem cantor apresenta uma vibe meio Pink Floyd e Prince, combinada com Artic Monkeys e Alabama Shakes. Harry mistura o soft rock ao folk; o folk ao country; o country ao pop e o pop ao hard rock de garagem – tudo isso com uma pitadinha de James Taylor, Eddie Vedder, Ed Sheeran e Kurt Cobain. As incontáveis referencias podem parecer uma mistura sem sentido, mas a vitamina de Styles funciona bem dentro daquilo que propõe: apresentar o artista, suas preferências e seu potencial, preparando terreno para uma carreira que tem tudo para estourar.

‘Harry Styles’, faixa por faixa

Começamos os trabalhos com ‘Meet Me In The Hallway’, cujos inesperados acordes psicodélicos provocam uma estranheza inevitável no primeiro play. Dissipada a impressão inicial, a canção de abertura é daquelas que quando mais se ouve, melhor fica – está lá a guitarra acústica, o grave cheio de suavidade de Harry Styles e a promessa velada de um trabalho que, logo de cara, é completamente oposto ao que nos foi apresentado nos cinco álbuns do cantor enquanto membro de uma boyband. Com influências de Pink Floyd, a música de abertura do homônimo traz dedilhados, sintetizadores e um tom de nostalgia que casa perfeitamente com a definição do cantor sobre o próprio disco, revelada em recentes entrevistas: um trabalho honesto.

E é, de fato, o que as próximas faixas mostram.

Na sequência temos o primeiro single e, disparado, a melhor música do álbum. Com influências do saudoso David Bowie e um pézinho no rock n’ roll melancólico que caracterizou o trabalho deste e de outros gênios, ‘Sign Of The Times’ expõe ao mundo todo o potencial de Styles, que a escreveu em três horas num sossegado paraíso Jamaicano. Com coros que impressionam, acordes de piano que fisgam de primeira e um convite para refletirmos, juntos, sobre o mundo em que vivemos, a canção é a reivindicação definitiva do artista como o futuro (aguardem!) Príncipe do Rock. Ao expor seu lado introspectivo nesta balada apocalíptica de soft rock, sem, contudo, oprimir seu inegável potencial para o glam, Harry nos oferece aqui um dos melhores lançamentos do ano e seu primeiro grande clássico.

Terceira música do homônimo, Carolina é, possivelmente, a faixa mais leve do disco, com uma adorável pegada blues e algo que nos lembre a batida familiar dos Beatles – o que reforça nossa opinião de que Styles será o responsável por duas invasões britânicas modernas, uma com a One Direction (que já aconteceu) e outra sozinho. A música conta com um pegajoso estilo old school, meio anos 70 e meio Rolling Stones, com um caráter dançante que acaba destoando da personalidade introspectiva do álbum como um todo.

Sobre camisas brancas, olhos azuis e lábios vermelhos, ‘Two Ghosts é a quarta faixa do álbum. A música causou barulho – e não apenas por ser um excelente acréscimo ao disco em termos de sonoridade, mas por parecer uma resposta à conhecida ‘Style‘ de Taylor Swift, com quem o cantor se relacionou por um breve período em 2012. Sombria, a canção fala sobre dois amantes que hoje são “dois fantasmas que permanecem no mesmo lugar” em que costumavam estar, com uma deliciosa pegada de country e folk. A música traz uma pegada de James Taylor, Beck e até mesmo de Lady Gaga no álbum ‘Joanne‘, tornando difícil ignorá-la.

Seguindo a mesma pegada country temos a faixa ‘Sweet Creature, que soará bastante familiar para quem conhece ‘Blackbird‘, dos Beatles – banda que serviu como inspiração, aliás, para várias músicas deste debut. Com acordes de violão acústico e trazendo à mente o visual característico do cantor, com seus terninhos old school, a faixa é quase uma serenata apaixonada pelas ruas de Londres. A comparação com Ed Sheeran, aqui, é quase inevitável: há uma sinceridade, delicadeza e um sentimentalismo na canção que trazem muito daquele outro cantor britânico, cuja aparente pureza nas composições parece resistir a uma era assustadoramente irônica para a indústria musical.

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Com uma introdução excelente, que combina a calmaria e a suavidade do instrumental com um poderoso hard rock oitentista,Only Angel’ é uma das melhores faixas do álbum. A música tem, em resumo, tudo que um bom rock pede: vocais roucos, gritos, riffs de guitarra, aplausos, “woo-hoos” e um bom refrão. Ela, que inicia a segunda metade do álbum, mostra a versatilidade de Harry Styles como cantor e performer, dizendo ao ouvinte que sua estreia na carreira solo está aí para atender a todos os gostos. Na sequência temos a igualmente agitada Kiwi, que surge como a típica música “boa, mas nem tanto” – noutras palavras, uma canção boa demais para ser ruim, mas fraca demais para ser, de alguma forma, marcante. Embora Styles seja melhor nas canções melancólicas e no soft rock, vale mencionar que seu grave rouco é bem sucedido nas músicas agitadas e faz jus ao ‘X-Factor‘ que o lançou na indústria. Harry não é um cantor de autotune e seu ao vivo, acredite, vale à pena.

‘Ever Since New York’ é a mais parecida com a sonoridade da One Direction – tão parecida que podia, facilmente, ser uma regravação da boy band. Por coincidência ou não, ela é também uma das músicas mais esquecíveis do disco de estreia do cantor, talvez por soar repetitiva em seu pedido incansável por honestidade. Na canção, que é quase um monólogo, Styles questiona a perda de um amor – um relacionamento em crise que faria o álbum perder fôlego se não fosse a próxima canção…

Woman traz um piano calculadamente desajeitado e uma guitarra poderosa, que combinados com uma letra escrachada sobre ciúmes, constroem uma das melhores musicas do homônimo de Styles. Quem conhece ‘Bennie And The Jets’, do brilhante Elton John, vai perceber uma gostosa semelhança na sonoridade, que traz, ainda, um aconchegante “la la la” para completar a melodia. Embora tenha claras emulações musicais e inspirações notáveis, a canção, assim como as outras, é totalmente ressignificada, representando uma nostalgia eficiente, direcionada para as novas gerações: ‘Woman‘ representa a linha tênue que separa a referencia da cópia, onde o que prevalece é uma belíssima homenagem a grandes ídolos.

Para encerrar, a harmônica From The Dining Table’ nos ganha pela simplicidade. Com uma pegada calminha de indie, a música é dessas para se ouvir numa rede, com o vento batendo no rosto. A faixa, contudo, não é a melhor das composições, sendo estranhamente repetitiva no relato de um relacionamento conturbado, que, você percebe, em fim, pautou quase todas a faixas do disco. Embora boa, a canção conclui o álbum de form levemente decepcionante em termos de letra, a salvo algumas exceções, como a apocalíptica ‘Sign Of The Times’.

O veredito:

O álbum, certamente, é melhor do que Harry Styles poderia ter previsto: temos aqui um trabalho de personalidade e estilo, com excelentes grooves, riffs envolventes e boas baladas. O jovem Styles não passou nas audições do ‘X Factor’ em 2011 por acaso: ele tem voz – uma voz que casa com o instrumental de maneira suave e harmônica, sem deixar de arrepiar e impressionar quando preciso, como evidenciaram as recentes performances do cantor para a divulgação do álbum.

Assim como no ‘Purpose‘ de Justin Bieber e no ‘Bangerz‘ de Miley Cyrus, temos aqui um típico álbum de transição para a vida adulta – desses que aparecem com frequência, quando os renomados ícones mirins passam dos vinte e poucos anos e sentem necessidade de readequar sua linguagem e seu público. Enquanto Bieber e Miley fincaram sua bandeira adulta na marra, com polêmicas, controvérsias e a necessidade de chocar, Styles é um sujeito discreto. A classe do cantor, aliás, está nas performances, no respeito à sua fanbase, no carinho com a banda adolescente que “lhe deu tudo”, na gratidão pelas ortunidades que surgiram e no arranjo musical maduro que ele optou seguir em seu primeiro disco solo. Toda a delicadeza de Harry, tal como sua educação e postura, corroboram para fazer do homônimo ‘Harry Styles’ um trabalho sutil, talentoso e honesto, com referências que o tornam musicalmente rico e plural. Mas não perfeito.

Embora as melodias sejam excelentes e a voz as torne ainda melhores, as letras se tornam maçantes ao passo em que tratam, quase que em sua totalidade, de questões semelhantes. Faltam composições tão boas quanto a sonoridade – que, por sua vez, para um primeiro disco, impressiona pela ousadia, pela vontade e pelas múltiplas possibilidades que denotam, mas que em trabalhos futuros precisarão de mais enfoque, unidade e direcionamento. Os pontos negativos do álbum são justificáveis: Harry Styles é um rapazote talentoso, com sede de mostrar que sabe e que pode seguir sozinho. A maturidade virá com o tempo e, com ela, certamente, um assento na mesa dos grandes rock stars da musica. Só nos resta esperar – e enquanto isso, acompanhar o trabalho muito acima da média que ele nos ofereceu até aqui.

Por Uber7


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