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“ANTI” é o contrário do que você esperava. E este texto também


Rihanna lançou – finalmente – seu oitavo álbum de estúdio. Mas como o título já sugere, o som é totalmente o oposto do que você esperava

O “ANTI” sugere, pelo título, uma contrariedade, vontade de não ser o que se espera. Nisso, ela foi coerente. O discurso do título faz-se verdadeiro, a cada nova faixa. Quanto ao conteúdo, eu diria bem produzido e confuso, muito confuso. Acho que se Rihanna fosse perguntada AGORA sobre conceito e conteúdo, nem ela saberia definir com exatidão a proposta.

De positivo temos as produções, que, isoladamente, fazem um ótimo trabalho. Se estivessem num álbum do Drake ou de qualquer rapper hypado, certamente receberiam mais créditos da mídia. Mas também, se você esperava uma sonoridade trap como na rejeitada “Bitch Better Have My Money”, também se sentirá órfão. Ou seja, não podemos chamar o conteúdo de hip-hop em sua totalidade. Há momentos. Suaves.

Também não é nada pop e não tem nenhuma farofinha. A música mais radiofônica é o lead single “Work”, que começa bem, mas se perde numa longa demora até o refrão. E sem Drake, ficaria ainda mais arrastada. Precisa de um radio edit para isso aí virar. Os vocais de Rihanna não acompanham o instrumental, às vezes desvia, mas não podemos negar que o drunk accent é divertido e tão particular. Quero ver o que virá após esta nos radinhos.

Gosto da abertura com a rebelde “Consideration”. Gosto que ela fala mesmo que assumiu o controle do projeto. Gosto também da colaboração com SZA, as vozes se complementaram lindamente. E o instrumental é uma delícia, bem no estilo hip-hop anos 90, onde as batidas eram feitas na hora pelo DJ com scraches no LP. Coisa que não se vê mais por aí, mas podemos usar nossa imaginação.

A minha favorita é, provavelmente, “Kiss It Better”, colaboração com Natalia Kills ou Teddy Sinclair. A produção é ótima, cuidadosa, cheia de camadas. Gostei também do cover do Tame Impala, “Same Ol’ Mistakes”. Parece que esta faixa faz uma divisão no álbum e ele torna-se mais interessante a partir daqui.

Daí Rihanna assume um alter-ego que se parece com Amy Winehouse, Joss Stone… Tem um quê de jazz, blues… não sei identificar com exatidão. Sei que o início de “Love On The Brain” me lembrou “Just a Fool”, dueto country de Christina e Blake de Lotus. E foi aí que eu comecei a pensar. Tem hip-hop, blues, country, um pouquinho de pop… o que você está tentando fazer, Rihanna?

Se a proposta inicial era fazer um álbum atemporal, não quer dizer que essa verdadeira fusão de gêneros, tipos e estilos possam estar em harmonia? Ou quer? Estou confusa. Porque a classuda “FourFiveSeconds” não entrou na segunda metade do álbum?  Teria se encaixado muito bem ali e não é todo dia que você tem Paul McCartney tocando violão para você. E porque rejeitar absolutamente tudo que foi feito antes; só por que não vendeu ou só porque Kanye West não poderia mais estar envolvido na questão?

E a melhor faixa ficou para o final. “Close To You” é uma balada no piano que pode suceder “Stay” se vir a luz do dia. E podemos recomeçar o processo de audição. Duas, três, cem vezes. Você é quem escolhe.

Eu me sentei na frente desta tela para fazer review faixa-a-faixa. Mas me perdi no meio do processo. Me perdi e tentei organizar meus pensamentos. E mesmo que eles não estejam em ordem, você vai entender. Afinal de contas, coerência não combina com o assunto.

Talvez este seja um álbum para ouvirmos daqui a dez anos. Talvez, no futuro, eu saiba decifrar as mensagens, que podem até estar em braille, mas, no momento, não podem ser lidas por ninguém. Não agora. As letras… esqueci de citar as letras. Deixa para uma próxima.

O álbum saiu antes do planejado, por um erro do TIDAL. Três singles saíram antes. Nenhum foi aproveitado. Risca. Deleta. Agora, o “ANTI” já foi baixado mais de um milhão de vezes gratuitamente, de forma legal. A estratégia de vendas certamente não quer vender. Quer só ser ouvido. Pode ser num fone que custe menos do que uns milhares de dólares.

Então, vou finalmente desligar a máquina de escrever tecnológica. Ela me consome e me alimenta. Mas tudo que é em excesso não pode fazer bem. Vou adormecer lá pelas duas da manhã, justamente o contrário do que eu deveria fazer. Deveria dormir mais cedo. E a Rihanna no “ANTI” fez justamente o contrário. Do contrário. Deveria ter feito uma antítese de tudo que já fez. E fez. E contrariou de novo. Será que existe alguma maldição ou profecia com oitavos capítulos? Só o tempo dirá como esse álbum vai amadurecer. Até lá. Boa noite.

Por Pop Chiclete


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