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“A Freira” é um terror interessante, mas com poucos sustos


Com a estreia do filme, entendemos que as intenções foram maiores do que a prática. No fim das contas, o filme é bom, mas não da forma que se esperava

Os filmes de terror ditos modernos tem sido o grande ganha-pão do cinema atual. Principalmente a – já podemos chamar assim? – saga “Invocação do Mal”, que originou uma série de spin-offs que se ligam com a história principal. Os dois filmes de Annabelle estão aí para comprovar que talvez não tenha sido uma boa ideia, cinematograficamente falando.

Eis que a Warner Bros. resolve lançar “A Freira”, um longa totalmente dedicado ao personagem que provavelmente mais assusta nos filmes originais. Já escaldados pelo que aconteceu com os filmes da boneca amaldiçoada, contrataram uma equipe mais profissional para comandar esta nova produção. Corin Hardy foi contratado para dirigir, baseado em seu bom trabalho em “A Maldição da Floresta”. Aparentemente, esta seria a receita ideal para o sucesso. A intenção era criar um novo hit de terror que arrastasse multidões para os cinemas.

Com a estreia do filme, entendemos que as intenções foram maiores do que a prática. No fim das contas, o filme é bom, mas não da forma que se esperava.

A freira risonha

Em primeiro lugar, é bom entender que o título acima não se refere, diretamente, a freira demoníaca do filme. Na verdade, é sobre o filme em si: cheio de gags rápidas para criar um alívio cômico, essa característica parece ser a única que funciona corretamente. O roteiro vai bem até mais ou menos a metade do longa, quando de repente ele abraça o clichê do “jump scare”, bem como as artimanhas de edição para dar sustos em quem assiste. Consequentemente, o filme acaba sendo mais engraçado do que assustador.

A sorte (ou o azar, depende de como se vê) é que “A Freira” conta com atores de primeira. Demian Bichir, que interpreta o padre, é um excelente intérprete e passa muita confiança em cena. Taissa Farmiga faz jus ao legado da família (a irmã, Vera, protagoniza “Invocação do Mal”) também se sai bem, enquanto o destaque maior fica com Jonas Bloquet, que serve como o elemento engraçadinho e piadista. Dessa forma, com bons atores em cena, até mesmo o roteiro mais sem graça acaba crescendo.

Mas não deixa de ser frustrante. Com um bom elenco desses, “A Freira” poderia ser o melhor filme do gênero neste ano. É uma pena que se destaque por outros motivos que não o principal: dar medo, dar susto.

Direção fraca, roteiro falho

Muitos podem gostar mais de “A Freira” porque, no fim das contas, apela aos clichês que nós já conhecemos, inclusive dos filmes “Invocação do Mal”. Mas, no caso dos originais, a direção de James Wan é precisa, que sabe mascarar os momentos de susto, nos pegando de surpresa. Fora que o roteiro é muito bem construído. Aqui, com erros e acertos tudo vai bem até os 20 minutos finais, quando toda o clímax é tão non sense que dá pena. As coisas param de fazer sentido.

O que é realmente uma pena. A direção de Hardy é simplesmente frouxa. Além do mais, é totalmente previsível: a gente sabe a hora que vai tomar um susto. Isso não faz sentido, já que a graça é não saber quando o demônio aparecerá. O roteirista Gary Dauberman erra feio e se perde entre as referências que incluem até uma relíquia com o sangue de Cristo. Surreal.

Enfim, se você vai ao cinema procurando um filme que realmente assuste, este não é indicado. Você pode até pular da cadeira em alguns momentos, mas vai ser preciso muito boa vontade para entrar na trama. Por outro lado, o filme é tão bem atuado que vale a pena assisti-lo. É uma diversão leve, até engraçada, mas que em dez minutos se torna esquecível. Em suma: é uma diversão passageira, ao contrário do que deveria ser: um terror bem estruturado e marcante. Com atores bons e uma vilã com potencial, isso é o mínimo que se esperava.


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