fan-news

Ana Carolina aborda política e tabus em seu novo show Solo


Desde o final do ano de 2015, após o término da turnê #AC, eletrônica e contemporânea, Ana Carolina vem apresentando sua nova turnê Solo, que é quase oposta à anterior. Fora o momento em que Ana recorda, com o dj Mikael Mutti, algumas músicas da sua última turnê, o show é composto única e exclusivamente pela sua voz e seu violão, um espetáculo muito mais simples, aconchegante e íntimo. Ana canta alguns dos seus sucessos, canta sucessos de grandes nomes da música brasileira, como Djavan, Chico Buarque e João Bosco, e conversa bastante com o seu público. De acordo com a própria cantora, é “como uma festinha de apartamento”.

Mas uma característica do show – além das mencionadas anteriormente – que chama muito a atenção do público, é a maneira como Ana Carolina trata de assuntos polêmicos, desde algumas músicas que canta até momentos de bate-papo com a plateia. Crê-se que críticas ao governo, politicagens, tabus e desabafos são os maiores pontos do seu repertório.

Pensando nisso, separamos em tópicos momentos em que Ana Carolina trata de tais assuntos, para que todos possam ter acesso a um pouco desse seu novo trabalho.

“Eu que não sei nada sobre essas contas na Suíça e nunca paguei aula de tênis pra minha mulher com dinheiro público.”

Ana Carolina começa o show dando boas vindas ao público e, então, apresenta a música que compôs com Jorge Vercillo para Maria Bethania, “Eu Que Não Sei Quase Nada do Mar.” Quando terminada a canção, ela conta, entre piadas e muito bom humor, que há um tempo, Maria Bethânia a havia pedido uma música que falasse sobre o mar. Mas, como uma boa mineira, ela não entendia praticamente nada sobre o assunto e de tal contexto havia surgido o nome da canção. Então ela vai ao ponto onde queria chegar, quando diz que uma outra pessoa também a havia pedido uma música, e que este foi o Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, mas que ela só conseguiu concluir o título: “Eu Que Não Sei Nada Sobre Essas Contas na Suíça e Nunca Paguei Aula de Tênis Pra Minha Mulher com Dinheiro Público”. O público gargalha e a aplaude. Essa mulher definitivamente arrasa!

“Qual é?”

Num outro momento do show, ela apresenta uma canção autoral inédita, chamada “Qual é?”, onde fala sobre pobreza, desigualdade, preconceito, bancada evangélica, corrupção e até cita a travesti que desfilou na cruz durante a parada LGBT, em São Paulo. “E se não gostar que se mande, eu repito, porque eu sou quem bem eu quiser! Já é!?”.

“Coluna Social.” e “Xeque-mate.”

No seu repertório estão incluídas duas músicas que chamam bastante atenção da plateia, compostas por Edu Krieger. Uma delas é “Coluna Social”, que diz “O Cinismo casou com Dona Hipocrisia / Teve uma grande festança no apartamento da Demagogia.” Ela introduz a canção dando uma sugestão bem humorada da solução para a briga de Dilma e Cunha. Colocá-los em um quartinho à luz de velas com Djavan tocando ao fundo, porque, em sua opinião, eles têm amor um pelo outro. A outra, bastante polêmica, é “Xeque-Mate”, que fala sobre aborto e tráfico. A música se trata de uma mulher sem condições de criar e educar um filho, e que, por tal motivo, tenta realizar um aborto, mas não consegue, pois é impedida pela polícia que fecha a clínica clandestina. O menino cresce apanhando, sem afeto e em uma vida sem oportunidades, tendo como plano pro futuro ser dono da boca. A história termina com o adolescente morto pela polícia (aquela mesma que impediu a mulher de realizar o aborto anos atrás). Uma mulher que não queria um filho, um filho que preferia jamais ter nascido. “Diz aí o que é pior/ Legalizar o aborto/ Ou saber que aquele menor/ Pela mão do sistema também vai ser morto?/ Eis aí o xeque-mate.”

Paródia do Hino Nacional Brasileiro.

Outro grande destaque do show é a paródia feita por Ana em cima do Hino Nacional Brasileiro que, diga-se de passagem, retrata muito melhor a nossa situação que a letra original. Nela, a cantora fala de desigualdade social e econômica, redução da maioridade penal, racismo, machismo, homofobia, estupro e mais um turbilhão de problemas e tabus que, com certeza, enfrentamos todos os dias. A letra é de uma grandiosidade e objetividade tamanha, e você só entenderia se ouvisse:

“Nomes de Favela”

Ana Carolina também canta “Nomes de Favela”, uma canção que traz um olhar crítico aos belos nomes dados às nossas favelas. Nomes que, hoje, já não fazem tanto sentido por esses mesmo lugares terem sido tomados pelo tráfico e violência. “Pela poesia dos nomes de favela / A vida por lá já foi mais bela / Já foi bem melhor de se morar / Mas hoje essa mesma poesia pede ajuda / Ou lá na favela a vida muda / Ou todos os nomes vão mudar.”

Como pode-se ver, Ana Carolina é uma cantora de grandes opiniões, grande pensamento e põe sem medo a cara à tapa no palco. Não é de se esperar menos, porque como um artista é um artista se não diz aquilo que sente e pensa?
Fora o grande talento com o violão, a potente e magnífica voz e o carisma com os fãs, a cantora também é um grande ser humano. Que orgulho, não?! Como dizem os portugueses, é um show “a não perder.”

Por Efeito AC

Crédito Foto: Marcelo Sá Barreto / Agnews


Deixe seu comentário


Envie sua matéria


Anexar imagem de destaque