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“Há muitos filmes com foco na perspectiva de homens brancos e heterossexuais”, afirma Ava DuVernay


A diretora Ava DuVernay acredita que há muitos filmes com os mesmos pontos de vista: homens brancos e heterossexuais, enquanto as minorias ficam de lado. E ela está certa.

Não há equilíbrio nas histórias contadas no cinema. É o que afirma a diretora Ava DuVernay, diretora de “Selma”, filme que concorreu ao Oscar deste ano e levou o prêmio de “Melhor Canção Original”.

Num bate-papo promovido pelo Huffington Post, ela e Takeshi Fukunaga, diretor japonês de “Out of My Hand”, os cineastas foram perguntados sobre produções feitas por negros ou asiáticos serem consideradas filmes de nicho.

“Eu não considero um desafio dizer que esse é um filme de negro ou um filme de liberiano ou um filme feito por um cineasta japonês”, respondeu DuVernay, fazendo uma referência ao longa feito por seu colega. “Essas são todas as nuances. Essa gama, que é o que estamos celebrando, é uma coisa boa.”

O problema de Hollywood, para ela, é outro.

“O ruim é que não há equilíbrio, é desequilibrado. Há muitos filmes com uma única voz, de uma perspectiva dominante de um homem branco heterossexual… Todo o resto fica de lado”, acredita a diretora.

E Ava DuVernay está certa. Um estudo deste ano analisou os 700 maiores filmes lançados entre 2007 e 2014, e constatou que mulheres ficam com apenas 30% dos papéis e negros representam apenas 12,5% deles. Quando se trata de orientação sexual, em 2014, personagens LGB foram bem poucos. Pessoas transgênero sequer foram representadas. Atrás das câmeras, mulheres dirigiram somente 1,9% dos 100 filmes campeões de bilheteria de 2014. Em 2013, nenhuma mulher negra dirigiu qualquer um dos 100 maiores filmes.

“Sabemos que a coisa toda é ridícula e não faz sentido. É um circo”, comentou Ava DuVernay sobre a questão. “Não há um progresso em termos de uma mudança real, substancial e sistêmica nas imagens equalizadas e abertas a todos.”

Desde 2010 ela possui uma distribuidora, a ARRAY, com foco em mulheres e minorias. “Sempre senti que há muitos filmes feitos, mas não vistos”, ela contou à Variety em setembro deste ano.

“Enquanto eu promovia ‘Selma’, percebi que havia outros filmes que deveriam ser distribuídos. E esse é um problema que eu posso fazer algo por conta da minha experiência.”

A diretora também afirma que é preciso que o público manifeste seu desejo por histórias mais diversas.

“As distribuidoras estão focadas em servir à audiência o que ela quer. Então, a audiência precisa dizer ‘nós queremos várias vozes. Queremos ver algo além de ‘Transformers 19.’ Deus abençoe. Tenho certeza que é maravilhoso, mas há outras coisas por aí”, concluiu.

Não é a primeira vez que a cineasta comentou a questão de diversidade em Hollywood. No começo do ano, quando nenhum ator negro foi indicado a um Oscar por atuação, ela disse que a situação era muito pior.

“A questão é: por que ‘Selma’ é o único filme concorrendo com pessoas negras ao prêmio? Entende o que eu quero dizer? Quero dizer, por que não há pessoas negras e latinas? Asiáticos, indígenas, representações que não são somente uma voz, um rosto, um olhar? Então, para mim, é muito menos sobre a premiação e elogios porque, literalmente, no ano que vem ninguém se importará. Certo? Eu nem lembro quem ganhou o prêmio por qualquer coisa há três anos. Eu não sei.”

Por Artur Francischi, do Prosa Livre


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