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O Lolla já passou, mas você ainda precisa saber quais foram os melhores shows de rock do evento


Dá uma olhada no resumão dos melhores shows que o Rock On Board preparou

Nos dois dias de Lollapalooza Brasil, o Rock On Board explorou os 600 mil metros quadrados do Autódromo de Interlagos em busca de guitarras e muito rock and roll. Saiba quais foram os melhores shows de rock desta edição do Lolla, na opinião de quem entende do assunto.

1 – Bad Religion

Aos 51 anos de idade, Greg Graffin já ostenta um visual que condiz mais com a sua segunda profissão, de professor formado em zoologia, do que líder de uma banda punk veterana. Em cima do palco, ele não é de muitas palavras soltas ou frases de efeito, mas cativa o público com suas letras, que dificilmente perdem a força com o passar dos anos. Considerados os “tiozões” do festival, o Bad Religion foi a banda mais antiga a se apresentar neste Lollapalooza Brasil 2016. O grupo, formado há mais de 35 anos, possui 16 discos lançados e um repertório de sucessos que ultrapassa os limites do tempo. Tanto que o grupo conseguiu a incrível façanha de reunir 23 músicas em apenas uma hora de show. Tudo isso sem pausas ou intervalos para discursos. Essa certamente foi uma das apresentações mais coesas da banda no país, com uma energia que se manteve alta do início ao fim. Entrando um pouquinho antes da hora, o grupo repassou sucessos de todos os anos da carreira, como “21st Century Digital Boy”, “Come Join Us”, “Los Angeles is Burning”, “Punk Rock Song” e “Fuck Armageddon… This is Hell”.

2 – Eagles of Death Metal

Por conta dos atentatos no Bataclan, em Paris, o Eagles Of Death Metal passou a ser uma das bandas que mais despertaram o interesse nesta edição do Lollapalooza. Um grande público caminhou até o distante palco Ônix para poder conferir o som do quinteto, que originalmente conta com o líder do Queens Of The Stone Age, Josh Homme. O grupo iniciou o show com o rock nervoso “I Only Want You”, do segundo álbum da banda, Peace, Love, Death Metal, lançado em 2004. O riff sujão de “Don’t Speak (I Came To Make A Bang)” veio em seguida e contou com boa presença do guitarrista Dave Catching (ex-membro do QOTSA). Carismático, Jesse Hughes é daqueles que não perdem a oportunidade de conversar com o público. Despojado e sacana, ele caminha lado a lado com sua guitarra vermelha pendurada no pescoço, e agradece o carinho dos fãs enquanto dá suas tragadas. “So Easy” colocou o povo para dançar, enquanto “Cherry Cola” apresentou guitarradas capazes de deixar Buzz Osbourne (Melvins) orgulhoso. O som do Eagles Of Death Metal funciona muito bem ao vivo e convenceu a galera do rock, com muito garage, metal e punk (“Oh Girl”). Mesmo sem um sucesso popular, com exceção de uma cover do Duran Duran (“Save Prayer”), o grupo segurou o povo até o fim do show com pedradas de impacto, como o punk alternado de “Wannabe in LA”.

3 – Vintage Trouble

O Vintage Trouble ainda não é uma banda muito conhecida por aqui. A prova disso é que o show do quarteto no palco AXE não atraiu muita gente. Mas isso não abalou a empolgação do grupo, que tratou de botar todo mundo para dançar ao som de seu rock and blues para lá de bem resolvido. Debaixo de um sol escaldante, o grupo surgiu em trajes finos ao som da fortíssima “Blues Hand Me Down”. O agitado – e supercarismático – Ty Taylor foi o grande responsável por injetar adrenalina na receita. Durante toda a apresentação, ele pedia palmas, gritos e fazia piadas com as meninas da primeira fila. Além de seu vozeirão incontestável, que pôde ser visto em faixas de rara interpretação, como “Doin What You Were Doin”, o vocalista abusou das peripécias e das dancinhas ousadas. Em “Run Like The River”, por exemplo, Taylor nadou no meio da galera e arrancou cantoria forte no refrão. No repertório deste show, o Vintage Trouble priorizou músicas mais agitadas, como o blues rock contagiante de “Nancy Lee” e “Angels City”, um hard à la Lenny Kravitz, que está presente no novo disco do grupo, 1 Hopeful Rd. Houve também alguns problemas técnicos no som que por pouco não comprometeram o andamento do número – a guitarra de Nalle Colt falhou em vários momentos e um ruído desagradável deixou o palco completamente sem som na parte final da apresentação. Antes de deixar o palco, a banda exibiu uma bandeira do Brasil e prometeu voltar mais vezes.

4 – Planet Hemp

“Não tem Snoop Dogg, Bob Marley morreu, então tiveram que chamar o Planet Hemp”, brincou Marcelo D2. E tem mesmo que respeitar. Afinal, essa é a segunda vez que a banda entra no posto de hedliner do Lollapalooza Brasil – a primeira foi em 2013, ano que marcava a volta do grupo aos palcos depois de um grande hiato. Mesmo sem lançar um disco há dezesseis anos, o show do grupo carioca soou muito mais adequado nesta edição. Em uma data marcada pelas manifestações nas ruas, só mesmo uma banda como o Planet Hemp para trazer o assunto à tona sem soar partidária. “Esquerda ou direita, quem vai roubar mais?”, questionou D2, antes de cantar “Futuro do País”, que trazia no telão, imagens de Dilma Rousseff, Eduardo Cunha e Nestor Cerveró. O show começou de forma frenética com o hardcore “Procedência C.D.” e engatou apenas na primeira meia hora uma seqüência de hits incontestáveis: “Ex-Quadrilha da Fumaça”, “Legalize Já”, “Dig Dig Dig”, “Fazendo Sua Cabeça” e “Deisdazseis”. “Ok, tirem as crianças da sala”, ordenou D2. BNegão completou: “Roda! Roda!”. E lá veio a pancada “Mary Jane”. Por falar em pancada, a apresentação também teve dois convidados para lá de especiais. Primeiro foi João Gordo, que recebeu homenagens por ser o aniversariante do dia. Gordo cantou “A Crise é Geral”, hino do Ratos de Porão. Depois foi a vez de Bolinha, guitarrista do grupo Serial Killer, que tocou “Seus Amigos”. Quando não estava em ação, D2 descansava em uma cadeira de praia, colocada à frente da bateria. “É bom estar de volta! Planet Hemp, os maconheiros mais famosos do Brasil!”, gabava-se Marcelo D2. Embora o show tenha seu caráter politizado, eles não fogem do assunto que deu origem ao nome da banda. “Em 1996, estávamos preparados para lançar um novo disco, e Marcelo Yuka (ex-O Rappa) peguntou sobre o que a gente iria falar nesse novo disco. A gente respondeu: Vamos falar de maconha!”, e lá veio “Queimando Tudo”, seguida de “Quem Tem Seda?”. Antes de “A Culpa é de Quem?”, o telão exibiu mais uma vez a imagem de Dilma, dessa vez acompanhada dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. Para dar mais ênfase ao discurso do show, o Congresso Nacional foi implodido no telão.

5 – Noel Gallagher’s High Flying Birds

Tem vezes que deve ser bem difícil ser fã de Oasis. Pior que viver em um mundo de especulações sobre a volta da banda é ter que admitir que Noel Gallagher consegue voar alto de forma solitária. É mais difícil ainda ter que admitir também que ele faz bom uso do direito de tocar sucessos consagrados para meio público e que não está nem aí para as grandes multidões, sedentas por nostalgia e revisitações. Noel depende menos de Liam do que o contrário, e sabe disso. Talvez esteja aí a mágoa de alguns fãs com sua carreira solo. Mas Noel dá de ombros e não deve ser levado a sério por isso – faz parte do show. É nessa onda que ele dedica “You Know We Can’t Go Back” aos fãs de Oasis, mostrando que sabe usar o sarcasmo inglês como poucos. Seu novo álbum, Chasing Yesterday é uma constatação do momento alto que vive. Faixas como “Lock All The Doors” e “The Mexican”, rockões de alto nível, são capazes de prender olhares do público no Lollapalooza como se estivéssemos diante de algo raro. E o que dizer dos arranjos de extremo bom gosto que acompanham as ótimas “In The Heat Of The Moment” e “Riverman”, que funcionam na força de estupendo um naipe de metais. Não duvide. É um show grandioso e irretocável. Aquele cara blasé, de poucos sorrisos também sabe a hora de mimar seus seguidores. Surpreende numa versão intimista de “Champagne Supernova”, e depois modifica a métrica de “Wonderwall”, talvez para não soar caricato de Liam. Mesmo assim, o povo adora. Além disso, dedica uma outra faixa, não tão popular para Florence (“Digsy’s Dinner”) e ataca com um B-Side (“Listen Up”) para mostrar que se tem que ser, que seja do seu jeito. A emoção chega ao ápice na execução da arrasa quarteirão “Don’t Look Back in Anger”, cantada a plenos pulmões pelo público Lolla – que se mistura entre fãs e gente que pula de um palco para o outro. Noel se despede do público cinco minutos antes de seu tempo estourar e deixa o palco do mesmo jeito que entrou: sem festa e de forma sorrateira. Afinal, quem disse que precisa ser de outro jeito? Depois desse showzaço, deixo a seguinte mensagem para Noel Gallagher: Já pode voltar para o Oasis, cara. Os fãs já admitiram que você venceu.

Por Bruno Eduardo, Rock On Board

 


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