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Rabisco arretado: Laila Garin canta de Caetano Veloso a Piaf, no RJ e SP


Com a banda “A roda”, cantora montou o show “Rabisco” – algo despretencioso até no nome, assumidamente um work in progress

Laila Garin é em si um ser híbrido, uma mistura de acarajé com quiche Lorraine, de Brasil com França, de Salvador com Paris, de teatro com televisão, de mímica e música.

A primeira vez que a vi, essa filha de baiana com francês, foi no teste para o papel principal do musical “Elis, a Musical“, juro que foi um choque aquela menina de grandes olhos azuis e cabelos vermelhos assumidamente revoltos, cantando “Como nossos pais”. Foi daqueles furacões que nem a mais apurada aposta poderia prever; ela conquistou o coração de Dennis Carvalho de primeira. Sofreu um tanto para assumir as características físicas da “pimentinha”, mas se jogou no papel de tal maneira que somente quem a assistiu pode mensurar a força e a entrega de sua interpretação. Papel traiçoeiro esse, tão lindo quanto marcante, e Laila sabia que precisava aproveitar o hype do musical, mas mostrar que tinha muito mais material para colocar na mesa.

Laila Garin in Trio Rabisco 2

 

É atriz até o último fio de cabelo, dessas que cursou faculdade, aprendeu mímica com mestres da arte, se jogou em grandes papéis. Ela queria mesmo era ser Piaf, mas Elis veio antes. A convite de Dennis Carvalho foi parar na novela das 21h; também continuou nos palcos musicais, mas tirou da manga um projeto bem especial. Com a banda “A roda”, montou o show “Rabisco” – algo despretencioso até no nome, assumidamente um “work in progress“. O Beco das Garrafas, onde Elis foi “degustada” logo que chegou ao Rio, foi o cenário escolhido para os shows, que já estão em sua segunda temporada. É um local pequeno para assistir o grande talento de Laila, mas se eu fosse você, não perderia a oportunidade de conhecer melhor e bem de pertinho essa gigante e potente artista, que, em “picância” e intensidade, não deixa nada a desejar à pimentinha gaúcha, Laila é baiana, né? É mais ardida. Voilá!

Laila Garin in Trio “Rabisco” estará no Teatro Porto Seguro, em São Paulo, no dia 8 de março, e os ingressos já estão à venda no portal do Ingresso Rápido. Já no Rio, a baiana se apresentou com o trio no dia 1º de março, no Beco das Garrafas.

 

Quem é Laila no aqui e agora?

A Laila no aqui e agora é autora.

Fale desse projeto “Rabisco” e da banda “A Roda”, como surgiu?

Fazer um show é um projeto antigo meu, mas sempre deixei em segundo plano, porque o teatro sempre tomou essa parte e eu também nunca encontrei parceiros com quem fazer música. A não ser quando eu vim morar no Rio de Janeiro, quando fiz, com o João Falcão, a peça “Eu Te Amo Mesmo Assim”. Foi quando eu conheci Ricco Viana e Rick de La Torre, que são os dois músicos, que junto com Marcelo Muller, formam essa banda: “A Roda”.

O “Rabisco” surgiu exatamente nessa busca de autoria. Eu deixei para lá toda a pressão que existiu de como seria o “lançamento de Laila como cantora” e resolvi simplificar e chamar de “Rabisco” exatamente para a gente ter uma liberdade de experimentação. Então, a gente criou esse show especialmente para o Beco das Garrafas, para um público pequeno, sem muita divulgação, para que fosse um público espontâneo, do “boca a boca”, aonde a gente experimentaria a cada semana um repertório e uma participação diferente, na medida que a gente vai conhecendo compositores novos e colocando músicas novas. Mas a gente é intérprete e a gente não compõe para esse projeto do “Rabisco”.

 

Qual a base do repertório? Como foi esse processo de criação?

O principal critério para formação desse repertório é essa liberdade. A gente só faz músicas que arrepiam a gente, que emocionam muito a gente. Parece clichê dizer isso, mas foi com esse critério bem simples que a gente começou, até porque a gente acredita que quando a gente não é “tocado”, emocionado e transformado pelo o que a gente faz, quem assiste e quem ouve a gente, também não é.

Eu conversei muito com o Ney Matogrosso, que eu considero um cara maravilhoso, porque ele mistura coisas tão díspares no repertório dele, além de sempre ter uma liberdade incrível, sempre com arranjos maravilhosos. Ele me ajudou muito em assumir quem eu sou mesmo, porque eu sou uma intérprete, já que eu não sou compositora, e até tenho uma música com o Renato Luciano, mas eu nem toco ela no show.

Bom, e aí nós fazemos releituras e, pelo que temos ouvido de retorno do público, elas são bem originais. Todo mundo fica muito emocionado, mesmo quando a gente faz alguma música mais conhecida. Mas nós temos músicas inéditas também, de compositores novos, como Dani Black, Moisés Marques, Renato Luciano e Juliano Holanda. Além, é claro, dos compositores clássicos da música brasileira, como Alceu Valença, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento. Temos também duas músicas francesas, já que sou francesa também: uma do repertório de Piaf e outra de uma banda chamada Noir Désir, da década de 80.

 

Como retomou sua carreira de cantora após o furacão Elis Regina em sua vida?

Depois de Elis, eu fiz um outro desafio para mim, que foi fazer uma novela de TV e das 21h. Isso mexeu muito comigo, mexeu com a minha popularidade. “Elis, a Musical” me fez ser reconhecida nas ruas, mas não tem a dimensão da TV. Com a novela, eu fui reconhecida em outros bairros, foi um outro alcance. Foi um desafio bem grande, eu nunca tinha feito uma novela, então foi assim que eu continuei me desafiando depois de Elis.

Eu também fiz o “Beijo no Asfalto”, que é um texto muito maravilhoso, com um personagem que passa por muita transformação. E é uma dramaturgia do Nelson Rodrigues, que é um dramaturgo brasileiro maravilhoso, que continua atual e absurdo. Ao mesmo tempo tinha uma ousadia, um desafio, que era transformar isso em um musical.

Para mim, depois de Elis, eu continuei ousando e me desafiando. E agora, o meu desafio é “Rabisco”, mas também estou ensaiando “A Gota D’Água”.

 

E tocar no Beco das Garrafas?

O Beco das Garrafas veio sim, por causa de Elis, de tudo que estudei da vida dela, de como esse lugar é especial. Veio também por ele ser esse lugar intimista e pequeno, e muito aconchegante, muito espontâneo e informal. A gente foi muito bem recebido lá e realmente foi a cara de “Rabisco”. A gente acredita que esse lugar é capaz de abençoar, já que foi o berço de tanta coisa maravilhosa da música popular brasileira. Então, o Beco das Garrafas deve dar sorte.

E a atriz, como anda? Novidades no teatro, cinema ou tv?

E como atriz, eu vou estrear em maio o “Gota D’Água ‘, que é uma adaptação de Rafael Gomes e direção do Rafael Gomes também. O Rafael é um diretor que acabou de dirigir o premiado “O Bonde Chamado Desejo”, que está em São Paulo, fazendo super sucesso, e que vem para cá, no Rio. E vamos estrear somente com dois atores, no teatro Net Rio.

Na TV, eu fui sondada para uma novela das 19h, não sei se é a próxima, mas não fechei nada ainda. Então, não tem nada certo.

Por Horácio Brandão – Midiorama


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