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Renato Russo: “Tenho saudades de tudo o que não vi”


Hoje faz 19 anos que Renato Russo nos deixou: relembre a trajetória fulgurante de um dos maiores compositores brasileiros

Renato Russo, nome artístico de Renato Manfredini Júnior (27 de março de 1960 —  11 de outubro de 1996) é considerado um dos maiores compositores e pensadores brasileiros, célebre por ter sido o vocalista e fundador da banda de rock Legião Urbana, um dos maiores ícones do rock brasileiro.

Renato adotou o sobrenome artístico Russo em homenagem ao inglês Bertrand Russell e aos franceses Jean-Jacques Rousseau e Henri Rousseau. Renato era um estudioso de filosofia, fã confesso de Nietzsche e promovia semanalmente reuniões em sua casa para discutir filosofia e o trabalho de pensadores. Tudo isso, claro, serviu de base para suas letras inspiradas, até hoje atuais e instigantes.

Dono de uma personalidade forte, sem papas na língua, Renato sempre surpreendeu. Aos 18 anos, revelou para sua mãe que era homosexual de forma direta: “Mãe, não vou casar com a Ana Paula (sua namorada na época), porque acho os homens mais interessantes”.

E Renato Russo surpreendeu os pais, amigos, fãs e a música brasileira não apenas enquanto viveu. Morto há 19 anos, o líder da banda Legião Urbana permanece aclamado como mito do rock nacional. A história e música de sua banda continuam sendo celebradas por centenas de sites na internet, inúmeros livros lançados sobre Renato e sobre a Legião,  regravações de outros artistas,  além da reprodução constante em rádios e da venda dos CDs dos artistas, fenômeno que se mantem mesmo após quase duas décadas.

Nos últimos anos de vida, sua carência o levou a se entregar ao álcool e às drogas. “Ele tomava Cointreau em copo de requeijão em um só gole”, conta Artur Dapieve, que escreveu o livro Renato Russo – O Trovador Solitário.

Renato Russo 3 - Credito Divulgacao

O cantor também era intenso, quando namorava um rapaz chamado Lui, tentou suicídio para chamar a atenção dele. Nos últimos meses de vida, Renato desistiu de tomar AZT e pedia a presença do pai, queria provas do amor dele e de que o aceitava como gay e alcoólatra.”

O pai chegou a se mudar para o Rio ao saber da doença, dois meses antes de perder o filho. “O Júnior carregava o mundo nas costas”, diz ele. O pai não contou à esposa o que o próprio filho não tinha revelado à mãe. D. Carminha soube pela televisão que o filho tinha Aids, horas depois da morte de Renato Russo, em 11 de outubro de 1996. Ela conta: “À noite, ouvi na tevê: ‘Morreu hoje de Aids o cantor Renato Russo’. Foi um choque.

D. Carminha conta que, de manhã, declarou que seu filho tinha morrido de anorexia nervosa. O respeito dos pais por sua opção sexual aproximou Renato da família. Em 1988, ele assumiu publicamente a homossexualidade, contra a vontade da mãe. “É para lutar contra o preconceito que vou fazer isso, mãe”, disse ele.

No último mês de vida, Renato caiu em uma depressão profunda e praticamente só bebia água de coco. Russo soube que tinha Aids depois de ter namorado Robert Scott Hickmon, o roqueiro que conheceu em Nova York, em novembro de 1989. Morador de San Francisco, Scott era gay e tinha um namorado vítima da Aids. Russo e Scott viveram juntos alguns meses no Brasil, antes de o americano voltar para os Estados Unidos. Uma amiga de Renato, Leonica Coimbra, a Léo, conta que recebeu o músico em sua casa, em Brasília, em 1990, segurando o resultado de um exame. Chorando, abraçou forte a amiga e desabafou: “Sou HIV positivo”. Aliás foi inspirado em Léo que Russo criou “Eduardo e Mônica”, seu primeiro grande sucesso.

Um mês antes de completar 29 anos, no Rio de Janeiro, Renato telefonou para a mãe em Brasília e fez suspense sobre uma novidade que veio a ser revelada na data do nascimento de seu filho, em 29 de março de 1989. Da maternidade, ele ligou: “É menino, mãe!” Giuliano ganhou nome de santo, como Renato prometera na música “Pais e Filhos”.

Quando Renato morreu, aos 36 anos, foi noticiado que o filho era adotivo, mas a família confirma a história de uma relação rápida com Rafaela Bueno, uma fã carioca, que resultou na gravidez, não apoiada pelos pais da moça. Rafaela morreu em um acidente um ano depois.

Renato Russo adorava crianças e um dos segredos que compartilhava com a mãe era o desejo de comprar uma casa e enchê-la de crianças órfãs. Também era uma pessoa extremamente generosa com amigos e desconhecidos: meses após sua morte, seus pais foram procurados por um jovem paraplégico desesperado com a morte do compositor pois desde que tinha perdido o emprego, recebia ajuda financeira do roqueiro para manter seu tratamento.

Renato Russo - Credito Divulgacao

A atriz Denise Bandeira, que foi sua namorada, coloca que sua capacidade de ir de um extremo a outro era incrível: “Ele podia se atirar ao chão num show para 10 mil pessoas e depois, em casa, mergulhar concentrado em sonetos de Shakespeare”.

Formado em Jornalismo, aos quatro anos ganhou o primeiro disco, dos Beatles. “Ele se trancava no quarto, colocava som alto, e eu, no quarto ao lado, aprendi tudo de rock com ele”, lembra a única irmã, Carmem Teresa. Três anos mais nova, não escapava das rédeas dele. “Ele era totalmente reacionário e protetor, coisas de irmão mais velho”, recorda. A ausência do irmão dói. “Não há um dia que não ouço alguma coisa na rua, uma música, ou vejo um filme, que não tenha vontade de falar com ele.”

Por MB


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