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Afinal de contas, o que há de errado com “As Caça-Fantasmas”?


O trailer de “As Caça-Fantasmas” finalmente saiu e muitas pessoas não estão contentes. Mas, afinal, o que há de errado com o filme?

Desde que anunciou, em janeiro de 2015, que o novo elenco do reboot de “Os Caça-Fantasmas” seria todo composto por mulheres, Paul Feig se viu no meio de uma histeria coletiva por conta de sua decisão.

A franquia foi lançada em 1984, tendo como protagonistas os atores Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Ernie Hudson, e fez parte da infância de muita gente que, depois de mais de 30 anos, acredita que ela está arruinada ou, talvez, que o filme original não poderá mais ser assistido agora que Melissa McCarthy, Leslie Jones, Kristen Wiig e Kate McKinnon ocuparão os quatro papéis principais.

Hollywood é conhecida por fazer reboots, remakes e continuações de séries amadas pelo público, então, um novo filme de “Os Caça-Fantasmas” não deveria ser exatamente uma surpresa, como também seria comercialmente viável. A diferença é que agora veremos quatro mulheres vestindo os famosos uniformes e à procura das criaturas paranormais.

E o que tem incomodado a internet e os fãs é o fato de que, dessa vez, o protagonismo é feminino. Alguém pode argumentar que o elenco não precisaria ser composto, necessariamente, apenas por mulheres, mas o mesmo pode ser dito sobre o grupo que era formado exclusivamente por homens há 30 anos.

“O primeiro filme funcionou porque tinham quatro das pessoas mais divertidas nele”, disse Paul Feig, cineasta por trás do novo longa. “Eu queria as pessoas mais divertidas, e as pessoas mais divertidas que eu conheço são essas mulheres. ‘As Caça-Fantasmas’ é para todo mundo”.

E devo acrescentar algo positivo nas atrizes escolhidas: Melissa McCarthy não se enquadra exatamente nos padrões de beleza de Hollywood, Leslie Jones é negra e Kate McKinnon é assumidamente lésbica. Além disso, três delas possuem mais de 40 anos. Sabe como é difícil ter filmes com mulheres acima de 40 anos como protagonistas? E todas têm trabalhos relacionados à comédia, tal qual os atores do primeiro filme.

Mas o passado relacionado à comédia não as faz “mais capazes” de estrelar a produção: as pessoas parecem não ter superado o estereótipo de que mulheres não são divertidas (risos). Junte a isso à responsabilidade de salvar o mundo e pronto! As pessoas odeiam o filme, mesmo sem nem ao menos assisti-lo. Ao mesmo tempo, produções centradas em mulheres vêm fazendo enorme sucesso, como “Missão Madrinha de Casamento”, “A Escolha Perfeita 2”, “Jogos Vorazes”, “Star Wars: O Despertar da Força” e “Mad Max: Estrada da Fúria”.

E arrisco dizer que, quando se trata de minorias substituindo algum personagem de um homem branco, as pessoas automaticamente reprovam. Basta lembrar, por exemplo, na infinidade de comentários negativos que “O Quarteto Fantástico” recebeu ao trocar o Tocha Humana, conhecido por ser branco nos quadrinhos, por um homem negro no cinema, interpretado por Michael B. Jordan. Foram tantas insatisfações com o fato, que o próprio ator escreveu um artigo defendendo a mudança na cor do personagem.

“Sei que não posso pedir ao público que esqueça 50 anos de histórias em quadrinhos, mas o mundo é um pouco mais diverso em 2015 do que quando o ‘Quarteto Fantástico’ foi lançado em 1961”. Eu sei que o novo “Quarteto Fantástico” é ruim, mas você entendeu meu ponto.

O mesmo aconteceu com o novo episódio de “Star Wars: O Despertar da Força”, quando o público descobriu que ele seria protagonizado por uma mulher (Daisy Ridley) e um homem negro (John Boyega). Até uma campanha de boicote ao filme aconteceu (que felizmente não vingou) por conta da decisão de J.J. Abrams, diretor do longa, de escolher um elenco mais diverso do que a franquia espacial jamais foi. E não vamos esquecer que o novo “Mad Max” passou pelo mesmo (e ganhou várias estatuetas douradas no Oscar no último domingo, 28).

Até a finalização deste texto, havia mais de 150 mil pessoas rejeitando o trailer de “As Caça-Fantasmas” no Youtube, contra mais de 90 mil curtindo o mesmo. Os comentários nas redes sociais reclamam do trailer em si, mas outros, basicamente, dizem que a franquia está “arruinada”, que era preciso “atores de verdade para o filme”, e que o “feminismo está fora de controle” (risos de novo).

Quero dizer, se há algo para reclamar sobre o longa é o fato de que a única personagem negra, da comediante Leslie Jones, não é uma cientista como as três colegas brancas, mas uma funcionária do metrô de Nova York. Não há nada de errado em interpretar alguém que trabalhe no transporte público, mas me diga quantas personagens negras você vê como cientistas em filmes? Mulheres brancas já são difíceis de ser encontradas, negras é ainda mais complicado. Hollywood precisa fazer melhor com personagens de minorias étnicas.

De qualquer forma, “As Caça-Fantasmas” está aí e estreia no Brasil no dia 14 de julho. Até lá, mais novidades devem ser divulgadas e mais reclamações machistas vão surgir, numa tentativa de desmerecer o filme de alguma maneira. Vamos dar as mãos e passar por isso juntos, colegas!

Assista ao primeiro trailer abaixo:

Por Prosa Livre


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