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O filme de maior bilheteria dos Estados Unidos conseguiu tal feito com elenco diverso


Com um elenco diverso, “Star Wars: O Despertar da Força” tornou-se o filme campeão de bilheteria nos Estados Unidos. E isso importa muito.

Nesta semana, “Star Wars: O Despertar da Força” tornou-se o filme de maior bilheteria nos Estados Unidos. Lançado há pouco mais de 20 dias, o longa superou “Avatar” (2009), do diretor James Cameron, e arrecadou mais US$ 760,5 milhões em bilheteria.

E o sétimo episódio da franquia conquistou tal feito com um elenco diverso: uma protagonista feminina, Rey (Daisy Ridley); um protagonista negro, Finn (John Boyega); um piloto de origem latina, Poe Dameron (Oscar Isaac); uma pirata espacial, Maz Kanata, cuja voz é de um mulher negra (Lupita Nyong’o); além de dois atores mais velhos, Harrison Ford e Carrie Fisher, que reprisaram seus papéis de Han Solo e, a agora, General Leia. E isso precisa ser celebrado.

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Finn (John Boyega) e Rey (Daisy Ridley)

Por que tais características importam tanto? Porque Hollywood está longe de retratar a realidade do mundo em que vivemos. Pegue os filmes que foram lançados no ano passado e você verá o apagamento de pessoas negras, asiáticas e indígenas, por exemplo. No geral, a indústria cinematográfica é composta por homens brancos, heterossexuais e cisgêneros (pessoas que se identificam com o gênero designado ao nascerem), algo que a diretora Ava DuVernay já criticou anteriormente.

A Universidade do Sul da Califórnia (USC) confirmou isso em agosto de 2015, quando divulgou um estudo feito com os 700 filmes campeões de bilheteria lançados entre 2007 e 2014 – excluindo o ano de 2011 -, e que comprova o fracasso do cinema em trazer histórias e personagens diversos.

Segundo o relatório da USC, as mulheres ficam com apenas 30% dos papéis, sendo que a maioria deles para na mão de mulheres brancas. O percentual fica ainda menor quando é levado em conta a raça, a idade e a orientação sexual das atrizes e personagens.

General Leia (Carrie Fisher) e Han Solo (Harrison Ford)
General Leia (Carrie Fisher) e Han Solo (Harrison Ford)

Quando se leva em conta a raça/etnia dos atores, a figura também não é animadora. Negros representam apenas 12,5% dos personagens, enquanto asiáticos são 5,3% e latinos 4,9%. E quando se fala de LGBTs, eles mal aparecem; sendo pessoas trans invisíveis: em 2014 elas não foram representadas na sétima arte.

E aqui estamos falando das pessoas que vemos na frente das telonas, porque aquelas que estão atrás delas, como diretores, roteiristas, produtores e etc, eles ainda são, em larga maioria, homens brancos, heterossexuais e cisgêneros.

Ao mesmo tempo, não só as pessoas que compõe Hollywood estão pedindo por mais diversidade, como a audiência também. Um estudo da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) examinou filmes e programas televisivos lançados entre 2012 e 2013, e concluiu que o público preferiu produções cujo elenco é mais diverso. Não só isso, essas produções se saíram bem em bilheteria, no caso do cinema, e em número de pessoas acompanhando-as, no caso da televisão.

“A audiência, independente de sua raça, está clamando por mais conteúdo diversificado”, explicou a co-autora do relatório “Hollywood Diversity Report”, Ana-Christina Ramon, ao The Hollywood Reporter. O material divulgado em fevereiro de 2015 culpa a falta de diversidade nas agências, sindicatos, estúdios e redes de televisão por perpetuar uma cultura “que desvaloriza rotineiramente o talento de mulheres e minorias.”

E é aí que entra “Star Wars: O Despertar da Força”, dirigido por J.J. Abrams, batendo recordes de bilheteria nos Estados Unidos, podendo quebrar o recorde em escala global também. O que o cineasta e a Disney fizeram não foi somente representar uma parcela da população que quer ser vista e ter sua identidade reconhecida e legitimada, como também criaram novas perspectivas para crianças e jovens, que agora podem sonhar com novas possibilidades na construção de um futuro melhor para elas.

Lupita Nyong'o dá voz à pirata Maz Kanata e Oscar Isaac, que dá vida ao piloto Poe Dameron
Lupita Nyong’o dá voz à pirata Maz Kanata e Oscar Isaac, que dá vida ao piloto Poe Dameron

Representatividade importa muito, pois nos ajuda a nos entender e a compreender nosso lugar no mundo, para que, assim, possam ser criadas novas formas de transformação de realidades, que são especialmente duras para mulheres, negros, LGBTs, pessoas com deficiência e outras minorias.

E se você acha que representatividade não é grande coisa, pouco tempo antes do lançamento no novo “Star Wars”, houve uma campanha de boicote ao filme, por conta do protagonismo ser dado a um homem negro e uma mulher. Felizmente, essa campanha não durou muito por conta de pessoas que tiveram ideias melhores, como celebrar a diversidade que o longa traz.

E se você me perguntar, sempre há espaço para melhorias. Por exemplo, estamos vendo um aumento de filmes centrados em mulheres empoderadas e que não são apenas interesses românticos de homens, como é o caso da Rey. Porém, por que essas personagens são sempre mulheres brancas? E por que elas são sempre novas?

Captain Phasma, personagem de Gwendoline Christie
Capitã Phasma, personagem de Gwendoline Christie

E embora Lupita Nyong’o esteja em “O Despertar da Força”, nós não a vemos, apenas ouvimos sua voz. Isso foi uma escolha pessoal da atriz, que contou ao Buzzfeed que queria se distanciar de sua personagem em “12 Anos de Escravidão”, cujo papel da escrava Patsey lhe rendeu um Oscar em 2014.

“’12 Anos de Escravidão’ era um filme sobre meu corpo e ‘Star Wars’ não é. Houve uma liberação para interpretar [a Maz Kanata] através de sensores de captura de movimentos, de forma que meu corpo ficou fora de questão”, ela disse. “O desafio da atuação que eu estava procurando era completamente diferente.”

Ainda assim, há poucas personagens femininas negras no cinema e negros, em geral, precisam de mais representatividade com personagens que tenham orgulho de sua raça e origens.

Contudo, há um grande avanço com “Star Wars: O Despertar da Força”, que pode abrir portas para uma indústria cinematográfica que dê mais oportunidades a todos. Que a Força continue forte em 2016!

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Por Artur Francischi, do Prosa Livre


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