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Carol Parra, guitarrista do CSS, assistiu Caetano e Gil em L.A. e nos conta tudo!


Caetano Veloso e Gilberto Gil: dois amigos, um século de música
10 de Abril, Los Angeles

Chegamos no Microsoft Theater, que tem capacidade para mais de cinco mil pessoas, as sete da noite sabendo que o show começava as oito, não queríamos perder uma nota sequer. A plateia parecia bem heterogênea, muitos brasileiros, latinos e americanos; Músicos e entusiastas da música.

O show começou pontualmente, a casa ainda não estava lotada, não por falta de venda de ingressos mas porque as pessoas estavam atrasadas mesmo. As cortinas se abrem e lá estão eles sentados com seus violões e já começaram a tocar “Back In Bahia”.

Minha cabeça viaja sobre a história desses dois gênios da música brasileira e ao mesmo tempo que tudo parece grandioso o show tem um tom intimista. Depois de três músicas Caetano para e diz “Hi”, Gil completa “Very High”, fazendo um trocadilho com a língua inglesa. A plateia reage com risadas, como se estivéssemos revendo amigos que não víamos há muito tempo.

Os dois cantam com vigor harmonizando como somente Caetano e Gil soariam, invocando nossas emoções mais profundas. É difícil não soltar uma lágrima, ou duas, ou talvez varias.

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As músicas refletem os cinquenta anos de carreira dos dois músicos, com a primeira metade mais focada nas composições de Caetano e a segunda metade na carreira de Gil. Eles também tocam versões de musicas em Espanhol e Italiano, que ficaram famosas em suas vozes, o samba clássico “É Luxo Só” de Ary Barroso e Luiz Peixoto gravado por João Gilberto em 1958 e a famosa música do Olodum “Nossa Gente (Avisa lá)”.

Você se esquece que está em Los Angeles, em 2016, numa casa de shows que leva o nome de uma das maiores corporações de informática do mundo e se transporta para algum lugar no tempo e espaço onde a ideia de paz e amor parece mais real do que as fotos sendo postadas no Instagram em tempo real.

caetano e gil los angeles

A idade parece não importar pois eles soam relevantes como os dois jovens que lutaram e sofreram com a ditadura no Brasil. Apesar disso, não houve nenhuma reação da dupla quando durante a performance da música mais recente de Caetano, que quando cantava o refrão “Odeio você” as pessoas completavam com o coro “Cunha” entre alguns gritos de “Não vai ter golpe”.

Uma das surpresas foi a novíssima “As Camélias do Quilombo do Leblon”, colaboração feita nessa mesma turnê em 2015, confirmando que mesmo após cinco décadas eles continuam a compor brilhantemente.

O show segue num tom relaxado até a hora que Gil começa a cantar “Não Tenho Medo da Morte”, usando o seu violão como um instrumento de precursão e cantando sombriamente sobre sua relação com a morte. Logo em seguida a tensão é quebrada com hit “Expresso 2222” nos trazendo de volta pra bem depois do ano 2000.

Duas horas de show e mais de trinta canções me fizeram pensar como é bom estar viva nesse período da história da humanidade ao mesmo tempo que Caetano Veloso e Gilberto Gil. Depois de dois bis com “Leãozinho” e “Domingo no Parque” eles terminam o show com um cover de Bob Marley “Three Little Birds”, Caetano e Gil cantando o refrão “Don’t worry about a thing, every little thing is gonna be alright” deixam uma mensagem de esperança tanto para o Brasil quanto para os Estados Unidos.

Por Carol Parra
Brasileiríssima radicada em Los Angeles e parte integrante da cultuada banda CSS-Cansei de Ser Sexy


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