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“Coringa” e a face mais sombria da DC Comics nos cinemas


Longa sobre maior vilão de Batman oferece performances dignas de Oscar e redenção inesperada ao universo de heróis da Warner Bros. nos cinemas

Vencedor do prêmio Leão de Ouro, ‘Coringa’, dirigido por Todd Phillipis – que também o co-escreveu junto com Scott Silver- é o filme de origem do vilão que, por alguns, também pode ser considerado como um tipo de justiceiro social com hábitos bastante radicais. Interpretado por Joaquin Phoenix, em uma performance impecável e digna de um Oscar, somos apresentados a Arthur Fleck, um palhaço e comediante que sofre de distúrbios psicológicos que os fazem ter dificuldades sociais. Tais condições psicológicas impedem Arthur de seguir sua vida pessoal e carreira normalmente, sendo tratado com hostilidade e falta de compreensão, o personagem começa a perder seus pilares emocionais como se estivéssemos assistindo a uma ópera maquiavélica. A partir desse ponto acompanhamos a trajetória conturbada de Arthur até tornar-se o mais famoso vilão de Batman, um dos personagens mais famosos da cultura pop e da DC Comics. Resumidamente, “Coringa”, seus personagens e Gotham City são uma clara resposta aos tempos conturbados em que vivemos.

A história se passa nos anos 80 na famosa Gotham City e trata de temas que vão de saúde mental à desigualdade social. O tom melancólico presente em todo filme ajuda a nos conectarmos com o personagem e permite que a platéia quase sinta sua solidão, se colocando no lugar do palhaço maníaco. Para os mais atentos, vale citar que cenários e direção de arte do longa contém claras referências a Taxi Driver, com uma paleta de cores que não apresenta tons vivos e conversa diretamente com a época em que o filme se passa.

Um dos pontos mais curiosos de “Coringa”, onde o filme inova, se desvincula das histórias das HQ’s da DC Comics, mas consegue se manter fiel a narrativa mantida até os dias de hoje é ao dar uma história e personalidade próprias para o personagem no universo cinematográfico. O nome real do personagem nunca foi revelado em nenhuma mídia, e sua vida antes de se tornar o gênio do crime possui muitas versões, sendo motivo de piada do próprio personagem no clássico “A Piada Mortal”. Dentre tantas possibilidades, a versão mais famosa é a em que o personagem fica com a aparência deformada após cair em um tanque de produtos químicos ao fugir de Batman depois uma tentativa de assalto, quando ainda usava o manto do Capuz Vermelho.

Apresentando também referências ao filme “Rei da Comédia” o diretor Todd Phillips deixa claro que inspirou-se no Scorsese para sua direção. Na fotografia, além das referências já citadas, há também cenas praticamente idênticas ao filme Her – também protagonizado por Joaquin Phoenix- brincando e conversando assim com a fotografia dos dois filmes.

Zack Snyder também pode ser referenciado e ter sua redenção, por meio do longa. Ao humanizar o personagem e se adentrar no circo de horrores que originaram o vilão, “Coringa” também pode dar pistas de forma subjetiva sobre como o Batman assassino e sem esperanças visto em “Batman vs Superman” veio a existir. Por acaso, ou não, o olhar vazio de Arthur Fleck em vários momentos lembra o olhar de Bruce Wayne no longa de Snyder. Vale citar que de certa forma o longa de Todd Phillipis mantém o legado iniciado por Snyder em “Man of Steel” ao não se jogar completamente na fantasia cartunesca, e nem na realidade crua da trilogia Nolan, unindo o melhor do que há em ambos os mundos.

Por apresentar diversas cenas de violência e lidar com questões políticas/sociais, por mais que o discurso do filme seja sobre a hostilidade e falta de empatia humana, se assistido sem filtros pode acabar sendo interpretado como uma glorificação à violência. Todo o discurso no qual o filme gira em torno é sensível, tratado com grande profundidade e responsabilidade. Inclusive, por este motivo a escolha de Joaquin Phoenix como Coringa não poderia ser mais certeira, visto que o ator transparece perfeitamente toda a angústia e sofrimento do personagem. A trilha sonora excessiva, mas bem utilizada e a música “Smile” de Jimmy Durante que acompanha o personagem em diversos momentos também contribuem perfeitamente para a construção gradual da insanidade do personagem.

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Sendo assim, aproveitando a ideia de um “filme de super herói” mais maduro – como Christopher Nolan fez em “Batman – O Cavaleiro das Trevas” -, mas sem abandonar o tom cartunesco que garantiu ao vilão sua fama entre todas as faixas etárias e através de classes sociais, “Coringa” pode ser considerado um dos melhores lançamentos de 2019 e um acerto inquestionável da Warner Bros. e seu universo cinematográfico.

O lançamento do filme no Brasil acontece dia 3 de Outubro.

Por Amandha Falconiery


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