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Festival Jardim Elétrico e todas as suas cores da psicodelia


No último final de semana, o Circo Voador abriu espaço na lona para o Jardim Elétrico, idealizado para suprir, de alguma forma, a ausência do festival Picolé, já tradicional nos verões cariocas.

O Circo Voador abriu espaço na lona para o Jardim Elétrico, idealizado para suprir de alguma forma a ausência do festival Picolé, já tradicional nos verões cariocas, mas que não aconteceu este ano. E pelo visto, o minifestival foi um acerto, com um line up que celebrou o rock psicodélico brazuca, trazendo nomes como Boogarins, O Terno, BIKE e o impagável Figueroas.

A BIKE fez as honras em sua estreia no Rio, ainda com o público chegando, preguiçoso. Quem já estava por lá, foi recompensado por ter aparecido cedo. A banda mostrou as músicas do álbum 1943, entregando o conceito que norteia sua criação: inspiração em temas que vão do misticismo ao cosmos, com músicas que começam simples e ganham corpo em distorções hipnotizantes, com letras que guiam o ouvinte no processo de expandir a mente. É a psicodelia em estado puro, que vale a pena ser explorada.

Depois de um rápido intervalo entre shows (ainda bem, afinal, seriam quatro bandas), o ambiente seria tomado pelo ritmo da lambada quente do Figueroas, uma das revelações da música em 2015, que ganhou os holofotes pela irreverência e também pela desconfiança de muita gente. Seria um hipster trollando todo mundo? Um entusiasta da lambada ajudando a resgatar o estilo para novas audiências? Tudo junto e misturado? Apenas sabemos que é sensacional um frontman que remete à personagem do programa Hermes e Renato, com uma pegada Luiz Caldas, entoando hits chiclete como “Bangladesh”, “Fofinha” e a já clássica “Melô do Jonas”. A estreia de Figueroas no Circo teve direito ainda a lançamento do single “Bicho, que calor!” (super adequada ao clima no Rio, por sinal) e uma versão para “Não há dinheiro que pague”, de Renato Barros. Épico!

Fôlego recuperado de tanto remexer, é hora de conferir o trio paulistano O Terno, que capta a pegada rock dos anos 60 costurada à MPB, aliada a letras bem sacadas ou que se traduzem em crônicas do cotidiano, como em “O Cinza”, que abriu o show e fez todo mundo cantar junto. O repertório privilegiou o álbum O Terno, de 2014, com destaque para “Bote ao contrário”, “Ai ai como eu me iludo” e “Eu confesso”, momento, aliás, em que a banda avisou que está trabalhando em novo material, que deve sair ainda em 2016.

O show ainda contou com a ótima “Papa Francisco perdoa Tom Zé”, composta pelo vocalista Tim Bernardes em parceria com Tom Zé, para o EP Tribunal do Feicibuque, e “Quando estamos todos dormindo”, dedicada ao Boogarins, banda com a qual vem mantendo uma relação criativa que rende bons frutos, a exemplo de uma versão vigorosa para “Saídas e Bandeiras nº1”, do Clube da Esquina (bem que o pessoal torceu para rolar uma jam, mas ficou para a próxima). Ainda deu tempo de dedicar “Eu vou ter saudades” aos apaixonados e fechar com “Tic Tac”, para empolgação dos presentes.

Atração mais esperada, o Boogarins arrematou a noite da celebração à psicodelia apresentando seus petardos lisérgicos a uma audiência que curtia tudo como se não houvesse amanhã. Os goianos mostraram no palco o que os faz tão respeitados por crítica e, especialmente, festejados pelo público. É um show para quem se permite levar, e não apenas se contentar com a reprodução das faixas dos discos ao vivo: as músicas ganham corpo em duração e experimentalismos e, por mais ensaiado que tenha sido, é como se imperasse a total liberdade, sem roteiros.

Cada música é conduzida pelo vocal etéreo do também guitarrista Fernando “Dinho” Almeida, com letras que dão sentido à sonoridade do grupo, como em “Tempo”, que poderia ser até uma espécie de “modo de usar” para se aproveitar o som da banda: “esqueça das horas, pois nada demora…”. Além de Fernando, a banda traz a cozinha vigorosa do batera Ynaiã Benthroldo (ex-Macaco Bong), com o baixista Raphael Vaz, dando sustentação e liberdade para o guitarrista Benke Ferraz trabalhar as distorções que nos convidam a explorar o universo do grupo.

Quebras rítmicas, viradas inesperadas, músicas que ganham novas camadas tornando-se robustas, tudo apreciado pelo público que dançava, curtia de olhos fechados, cantava junto ou simplesmente observava absorto. “Lucifernandis”, “Erre” e as músicas do mais recente trabalho, Manual (2015), como “6000 dias (Ou Mantra dos 20 Anos)”, “Avalanche” e “Tempo”, renderam bons momentos. E como não poderia ficar melhor, a esperada e muito pedida, “Doce”, encerrou a noite com a leveza que toda sexta-feira sempre promete. Agora é torcer para que as distorções psicodélicas do Jardim Elétrico ecoem em novas edições.

FESTIVAL JARDIM ELÉTRICO
Bike, O Terno, Figueroas e Boogarins
Circo Voador, Rio de Janeiro
​29/01/2016

Por Tatiana Vargas, da ZIMEL


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