A sexta-feira trouxe consigo a terceira e última data do festival “Muito Prazer, Brasil“, realizado no Circo Voador com o intuito de celebrar o quadragésimo aniversário da MP,B. Nos dias anteriores, a tradicional casa carioca já recebera nomes do porte de Milton Nascimento, Lô Borges, Ney Matogrosso e João Bosco, acompanhados por uma lista de convidados que incluíra Carminho, António Zambujo, Pedro Luis e a Parede, Banda Zil e Verônica Sabino. Desta vez, a festa foi comandada por um conjunto de músicos que reforçou o espírito coletivo que marcou a concepção do projeto.
A abertura da noite ficou por conta do Sambasofia, grupo composto por oito musicistas – quatro mulheres e quatro homens – dispostos com seus instrumentos ao redor de uma pequena mesa com arranjos florais, reproduzindo o ambiente de uma legítima roda de samba.
No repertório, uma sequência de clássicos do gênero, como “As Rosas Não Falam”, “Roda Ciranda”, “Coração em Desalinho”, “Minha Missão” e “Se Você Jurar”. O público que aos poucos chegava, logo se animou e tratou de colocar os pés para gingar na cadência de “Alma Boêmia” e “Verdade”. Após a dobradinha “Poder da Criação” e “Se Acaso Você Chegasse”, a alegria irrompeu em definitivo com “É Hoje”, célebre samba-enredo levado à avenida pela União da Ilha do Governador, em 1982. Dever cumprido!
O grande quarteto vocal MPB4, na estrada desde 1965, foi a segunda atração a se apresentar. Em sua mais recente formação, na qual Paulo Malaguti e seu teclado Rhodes se uniram ao trio Aquiles, Dalmo e Miltinho – este último portando seu violão. A musicalidade que os projetou segue imaculada. O que se viu foi uma aula de harmonização em “O Ronco da Cuíca”, “Partido Alto”, “A Lua” e “Amigo É Para Essas Coisas”.
Como não poderia deixar de ser, o Circo também cantou em alto e bom som os clássicos “Roda Viva”, “Cálice” e “Vira Virou”. O “até logo” do grupo, “Última Forma”, contou com a participação especial do capixaba Zé Renato – muito aplaudido pelos presentes -, que em seguida emendou “Papo de Passarim” em um duo singelo com seu jovem filho. Era só o início de uma série de contribuições que estava a caminho: para versões de “Cotidiano” e “Samba do Grande Amor” – ambas registradas no álbum Filosofia, gravado em 2001 como um tributo a Chico Buarque e Noel Rosa -, Zé Renato invitou o exímio Trio Madeira Brasil. Dali em diante, foram justamente Ronaldo do Bandolim, Marcello Gonçalves e Zé Paulo Becker os encarregados pelos arranjos de todos os números por vir.
Após breve apresentação instrumental do Trio, foi a vez de Fernanda Abreu se unir a eles. A pedido de João Mário Linhares, fundador da MP,B Produções, a cantora inicialmente emprestou voz à canção “Samba e Amor”, de Chico, e depois prosseguiu com sua versão de “Tudo Vale a Pena” -parceria com Pedro Luis, que também a executara com sua banda na véspera. Aproveitando a deixa das parcerias, o cantor e compositor Rodrigo Maranhão fez sua primeira aparição na noite ao lado do Trio Madeira Brasil e de Fernanda para sacudir a Lapa com “Baile da Pesada”, hit da dupla. Na sequência, Maranhão somou seu cavaquinho ao Trio em “Recado” e “Caminho das Águas” – esta última com Zé Renato, aparentemente quebrando o protocolo em meio a sorrisos descontraídos.
Foi em “Samba de Um Minuto” que Roberta Sá, muitíssimo bem recepcionada pelos fãs, adicionou seu talento e carisma à celebração e, ao comandar, sempre sorridente, a sequência do show, proporcionou alguns dos momentos mais belos da festa, com “Cicatrizes” – em que o MPB4 a acompanhou -, “Água de Minha Sede”, “Menino” e “Zambiapungo”. Por fim, o palco foi preenchido por todos que por ele passaram ao longo da noite para uma emocionante versão de “Toada” a muitas vozes. Povo visivelmente satisfeito, mas ainda faltava a cereja do bolo. A despedida veio após um rápido intervalo, quando parte da pista do Circo foi tomada pela bateria do bloco-banda Bangalafumenga, liderado pelo próprio Rodrigo Maranhão. Desse modo, o apagar das velas do aniversário da MP,B foi simbólico: o excelente festival pode até ter chegado ao seu término, mas o fez abrindo as portas para a nova festa de rua que, em breve, ganhará corpo com o carnaval do Rio – convenhamos, um presente para todos.
por Diego Ramalho, para a ZIMEL








































