Um dos principais cantores e compositores da história do samba da música brasileira, mestre Cartola completaria hoje nada menos que 107 anos. Nascido no bairro do Catete, em 1908, Angenor de Oliveira era cantor, compositor, poeta e violonista e descobriu apenas aos 55 anos que seu nome não era Agenor e sim Angenor. Acredita?

Um dos principais responsáveis pela fundação da Estação Primeira de Mangueira, da qual foi responsável por escolher as cores da escola, verde e rosa, Cartola criou o Bloco dos Arengueiros. Foi a partir do núcleo desse bloco que a escola de samba foi criada, em 1928.

O apelido do mestre veio do chapéu-coco que usava para não sujar seus cabelos de cimento, enquanto trabalhava como pedreiro. Em seu repertório, estão alguns dos verdadeiros hinos do samba brasileiro como “O sol nascerá”, “As rosas não falam”, “Acontece”, “Sim” e “Alvorada”.

A música “O mundo é um moinho”, eternizada na voz de Cazuza e Beth Carvalho, foi escrita por Cartola quando descobriu que sua filha tinha se tornado prostituta. Desolado, o compositor foi para o bar, tomou todas e escreveu os belíssimos versos abaixo:

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

Um verdadeiro poeta, Cartola viveu até os 72 anos e gravou seis discos, entre 1974 e 1982. No enterro, os principais cantores da música brasileira prestaram suas homenagens, como Clara Nunes, Alcione, Emílio Santiago, Chico Buarque, João Nogueira, Dona Ivone Lara, Nelson Sargento, Jamelão, Roberto Ribeiro, Clementina de Jesus, Martinho da Vila, Gal Costa, Simone, Elizeth Cardoso, Paulo Cesar Pinheiro, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Gonzaguinha, entre muitos outros.

O grande reconhecimento de sua obra veio somente após a sua morte e hoje já existem diversos discos póstumos, filmes em sua homenagem e a lembrança de que o samba brasileiro nunca mais viu alguém como ele.

Deu saudade? Então, escute a versão de “As Rosas Não Falam” da cantora Liah Soares, que arrebentou nas audições às cegas do The Voice Brasil, em 2012.

Por Rebeca Guio