Nesta semana, o ator Wentworth Miller, famoso por sua atuação na série “Prison Break”, fez um desabafo em seu Facebook, após ver uma foto sua em que estava fora do peso que o público estava acostumado a ver. A imagem de 2010 virou um meme de mau gosto na internet, e o artista aproveitou para falar sobre sua luta contra a depressão, um assunto que ele já havia falado abertamente em outras oportunidades:

“Em 2010, quase aposentado da atuação, eu estava me mantendo afastado dos holofotes por inúmeras razões. A primeira e mais importante, eu estava suicida. […] Eu luto contra a depressão desde a infância, é uma batalha que me custou tempo, oportunidades, relações e várias noites sem dormir. […] Eu sobrevivi. Assim como essas fotos. Mas eu estou feliz. Agora, quando vejo essa imagem minha na camisa vermelha, com um raro sorriso no meu rosto, eu lembro da minha batalha.”

Doenças mentais, como a depressão, a ansiedade e o transtorno bipolar, por exemplo, não são incomuns. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 700 milhões de pessoas no mundo todo, ou uma a cada dez, possuem algum tipo de transtorno mental. No nosso país, estima-se que 23 milhões de brasileiros (12% da população) necessitam de algum atendimento em saúde mental.

E, embora não sejam raras, há muito preconceito e desinformação no que diz respeito aos problemas mentais, o que acaba dificultando o tratamento para quem precisa dele. O suicídio, por exemplo, poderia ser prevenido em 90% dos casos, de acordo com a OMS. Isso porque ele está associado a doenças de ordem mental diagnosticáveis e tratáveis, sobretudo, a depressão.

“Em geral, o maior desafio está no início do tratamento, em ajudar a própria pessoa e sua família a vencerem o preconceito e o estigma em relação a realizar um tratamento psiquiátrico”, explica Marco Antônio Abud Torquato Junior, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (Ipq/HCFMUSP) e do Hospital Universitário da USP, ouvido pela reportagem do UOL.

A falta de informações, de campanhas que conscientizem a população e de cobertura da mídia sobre o tema ajudam a entender o estigma que existe em torno da saúde mental, o que acaba fazendo com que os pacientes lidem sozinhos com sua doença, quando poderiam estar procurando ajuda e recebendo o tratamento necessário.

Por isso, quando uma celebridade grande, como Wentworth Miller, fala abertamente sobre sua luta contra a depressão, seu gesto abre uma conversa, para que percepções erradas sobre ela sejam desfeitas. Abaixo você confere outros 13 famosos que não tiveram medo de falar sobre sua saúde mental.

(E se você estiver precisando de ajuda, ligue para o CVV – Centro de Valorização da Vida – através do 141, ou converse com um especialista no site.)

Jared Padalecki:

No ano passado, o astro de “Supernatural” participou de uma campanha de vendas de camisetas para arrecadar fundos para uma ONG que presta apoio a pessoas com depressão, vício, automutilação e suicídio. Em entrevista para a revista Variety, Padalecki revelou ter sido diagnosticado com depressão quando filmava a terceira temporada da série. Quase 10 anos depois, o ator quer ajudar a acabar com o estigma sobre doenças mentais.

“Eu digo constantemente que não é preciso ter vergonha em lidar com essas coisas. Talvez você não ganhe todas as batalhas. Haverá dias muito difíceis. Talvez haja momentos difíceis todos os dias, mas, com esperança, talvez isso ajude alguém a pensar: ‘isso não é fácil, é uma luta, mas eu vou continuar sempre lutando’, e é por isso que fizemos essa camiseta.”

Demi Lovato:

Demi Lovato é uma das artistas que mais têm se dedicado na luta contra a desinformação sobre doenças mentais. Ela, que já foi diagnosticada com transtorno bipolar, automutilação, vício e transtornos alimentares, acredita que esses transtornos precisam ser tratados com a mesma seriedade e urgência com as quais trataríamos um osso quebrado.

“Achei que era minha responsabilidade e meu propósito falar sobre as coisas que eu acredito e o que eu passei, pois eu quero usar minha voz de outras maneiras além de cantar”, contou a voz de “Skyscraper” ao Huffington Post.

No ano passado, ela foi ao Congresso americano pedir por uma reforma no tratamento de doenças mentais e foi o rosto de uma campanha que visava encorajar jovens a expressarem o que estão vivendo.

“Vivendo com transtorno bipolar, houve vários momentos em que eu me senti sozinha. O mais difícil era viver com minha bipolaridade depressiva. Quando eu finalmente cheguei no fundo do poço, decidi pedir ajuda. E assim as coisas começaram a mudar. O transtorno bipolar pode ser parte da minha vida, mas não é quem eu sou.”

Jennifer Lawrence:

Jennifer Lawrence sempre se manteve honesta quanto à forma como lida com a ansiedade. Em 2013, quando foi capa da Vogue americana, ela contou que sua infância “foi infeliz”.

“Eu era esquisita. Sempre tive essa ansiedade esquisita. Eu odiava o recesso, não gostava de excursões, festas me estressavam muito. E eu tinha um senso de humor diferente.”

Mesmo tendo feito terapia e ter sido medicada, a artista só começou a melhorar quando começou a atuar. Ela disse à revista Madame Figaro:

“Eu finalmente encontrei um caminho, uma porta aberta para um universo que eu entendia, que era bom para mim e me fazia feliz, porque eu me sentia capaz.”

Emma Stone:

Emma Stone é aquela atriz que todos gostaríamos de ter como amiga, por conta de sua personalidade divertida e alegre. Acontece que nem sempre foi assim: aos 8 anos ela começou a ter ataques de pânico.

“Foi muito ruim. Tive meu primeiro ataque de pânico na casa de uma amiga e pensei que a casa estava sendo queimada. Liguei para minha mãe e ela me levou para casa. Por três anos, isso não parou”, contou a atriz ao Wall Street Journal.

Em entrevista à revista Vogue, ela revelou que não gostava de ir à casa de suas amigas e sentia-se imobilizada por sua ansiedade. Emma fez terapia, mas descobriu na atuação uma forma de descansar a mente.

“Há algo na urgência da atuação. Você não consegue pensar em um milhão de coisas, você precisa pensar na tarefa que está na sua frente.”

Cara Delevingne:

Em 2015, a protagonista de “Cidades de Papel” revelou ter lutado com a depressão enquanto sua carreira como modelo decolava, informa o Buzzfeed.

“Eu era completamente suicida. Eu não queria mais viver. Achava que eu estava completamente sozinha. Eu também percebia como era sortuda e que família e amigos maravilhosos eu tinha, mas isso não importava. Eu queria que o mundo me engolisse, e nada parecia melhor do que a morte.”

Ela diz que foi a modelo Kate Moss quem a ajudou a superar seus problemas. Cara também compartilhou o que considera a chave para a felicidade:

“É sobre encontrar pessoas que se importem com você e que te apoiem. E eu pude me tornar um apoio para as pessoas também.”

Dwayne Johnson:

O ator, estrela da franquia “Velozes e Furiosos”, também precisou lidar com a depressão. Felizmente, ele superou a doença e hoje quer lembrar a todos que estão vivendo com ela de que não estão sozinhos.

“Você não está sozinho. Você não é o primeiro a lidar com ela e nem será o último. Às vezes, você se sente sozinho. Lembre-se: você só precisa agarrar àquela qualidade fundamental da fé. Tenha fé. Do outro lado da dor, há algo bom.”

Kerry Washington:

A Olivia Pope do seriado “Scandal” contou à revista Glamour que faz terapia e não quer que as pessoas tenham vergonha de procurar ajuda:

“Meu cérebro e meu coração são muito importantes para mim. Não sei por que eu não procuraria ajuda. Para ter as coisas em ordem como meus dentes, eu iria a um dentista. Então por que eu não iria a um psicólogo?”

Kristen Stewart:

A eterna Bella Swan da saga “Crepúsculo” precisou lidar com a ansiedade durante a adolescência. Ela contou à revista Marie Claire que o período entre os 15 e 20 anos foi muito intenso.

“Eu ficava constantemente ansiosa. Eu era meio que controladora. Se eu não soubesse como algo acabaria, eu ficava doente, ou calada ou até inibida de uma maneira bem debilitante.”

Foi só agora que Kristen aprendeu a controlar suas emoções e deixar as coisas fluírem.

“Chega um ponto em que você se solta e se entrega à vida. Eu finalmente consegui isso e consegui muito mais da vida. A idade me deixou mais sábia e calma. Isso é maravilhoso.”

Kanye West:

Após a morte de sua mãe, em 2007, Kanye West declarou em um show ter pensado em suicídio. Contudo, ele preferiu seguir em frente, dizendo querer inspirar outras pessoas.

“As pessoas sempre te dizem para ser humilde, humilde, humilde, mas quando foi a última vez que alguém já te disse para ser incrível, grande ou fantástico? Não vou desistir da vida novamente. Existem tantas pessoas que nunca terão a chance de terem suas vozes ouvidas… Eu faço isso por elas.”

Lady Gaga:

Em 2015, Lady Gaga se abriu com seus fãs e com o mundo. A cantora falou abertamente sobre o estupro que sofreu na adolescência e como ele a marcou; tendo ainda feito a música “Till It Happens To You” para o documentário “The Hunting Ground”, filme sobre o abuso sexual dentro das universidades americanas. Seu objetivo é fortalecer as sobreviventes desse tipo de violência e lutar pelo fim dela.

Não só isso, ela revelou sofrer com depressão e ansiedade durante toda sua vida e acredita que a tecnologia tem colaborado para que os jovens se sintam mais isolados e infelizes. Contudo, ela contou que atuar na série “American Horror Story” a ajudou bastante a controlar seus transtornos mentais e deu um conselho para todos que estão passando pelo mesmo: ser honesto consigo é muito benéfico.

“E então você vai pra casa, se olha no espelho e diz ‘sim, eu posso dormir com você todas as noites.’ Porque aquela pessoa, eu a conheço. Aquela pessoa tem coragem, aquele pessoa tem integridade, ela tem opinião.”

Halle Berry:

A ganhadora do Oscar, Halle Berry, disse ter tentado suicídio após o fim do seu casamento com o jogador de beisebol David Justice. Ela inalou o monóxido de carbono de seu carro, mas a figura de sua mãe lhe veio à mente, o que a fez desistir do ato.

“Pensei na minha mãe me encontrando (morta). Ela sacrificou tanto por seus filhos que acabar com a minha vida teria sido incrivelmente egoísta”.

A atriz então decidiu que teria de “me reprogramar e ver o que havia de bom em mim. O fato de que alguém não gostava de mim não significa que não fosse digna de ser amada.”

Katy Perry:

Após o divórcio com o ator britânico Russell Brand, Katy Perry precisou lutar contra a depressão e chegou até mesmo a pensar em suicídio. Esse período difícil na vida da cantora foi transformado numa música, “By The Grace of God”, faixa presente no seu último álbum de estúdio, Prism.

“Às vezes você pode ficar cego por fortes emoções. Eu estava procurando respostas quando escrevi essa música e, sim, eu estava deprimida, triste e houve pensamentos, mas nunca ações. Mas eu queria dividir esse pedaço da minha história, porque sei que há tantas pessoas por aí que passaram por momentos similares e você se sente como se fosse o único a passar por isso.”

A voz de “Roar” também revelou que começou a fazer terapia em 2012 e que aprendeu, entre outras coisas, a importância do amor próprio.

“Eu tive que aprender a cuidar de mim antes de conseguir cuidar dos outros. Eu quero ser a mãe de todo mundo, quero tomar conta de todos, quero salvá-los, mas no meio tempo, acabo esquecendo de mim. Aprendi isso durante a terapia.”

J. K. Rowling:

A autora da saga “Harry Potter”, J.K. Rowling sabe bem o que é depressão, já que foi diagnosticada com a doença quando era mais nova. Foi daí que surgiu a ideia dos Dementadores, as criaturas sombrias que se alimentam da felicidade das pessoas no universo do bruxo mais famoso do mundo. Hoje, ela luta contra o estigma sobre doenças mentais.

Recentemente, ela ajudou uma fã brasileira que precisava lidar com os “dementadores que vivem embaixo da minha cama.”

“Eles estão incomodando um ser humano único e valioso, que merece a felicidade. Peça ajuda. Não lute sozinha. Grande abraço”, respondeu a escritora.

*Por Artur Francischi do Prosa Livre