Em março deste ano, Francisco de Assis França Caldas Brandão, mais conhecido como Chico Science, completaria 50 anos de idade. No entanto, a genialidade do músico, que impulsionou o Movimento Manguebeat, foi interrompida por um acidente de carro em fevereiro de 1997, ocasionando em sua morte precoce. Porém, o seu legado nunca foi esquecido.
Chico Science nasceu em Olinda, em Pernambuco. Portador de uma criatividade admirável, Chico era dono de uma mente aberta, ligado em diferentes batidas musicais, agregando elementos do maracatu e ciranda às suas canções, ressaltando toda diversidade cultural de seu estado à biodiversidade do mangue.
Apesar de seu legado ter deixado apenas dois álbuns ao lado da Nação Zumbi (Da Lama ao Caos e Afrociberdelia), Chico colaborou o suficiente para modificar a cultura pop no Brasil.
“A gente ouvia muito drum and bass e jungle. Durante o dia, ele ouvia de Vicente Celestino a Kraftwerk. Mas ele estaria mexendo com coisas diferentes dos dois discos que fez com a Nação Zumbi, que eram bem a frente de sua época e continuam atuais”, diz Jorge du Peixe, atual vocalista do Nação Zumbi em entrevista ao portal Uol este ano.
Aliás, seus dois álbuns foram incluídos na lista dos “100 Melhores Discos da Música Brasileira” da revista Rolling Stone, elaborada a partir de uma votação com 60 jornalistas, produtores e estudiosos. Em 2008, a Rolling Stone também promoveu a lista dos “100 Maiores Artistas da Música Brasileira”, cujo resultado colocou Chico Science em 16ª lugar.
“Inquieto era uma palavra que o definia bem. Você olhava e ele estava sempre com uma expressão honesta, com os olhos arregalados, como ele diz em uma música: ‘Fechando os olhos e mordendo os lábios, sinto vontade de fazer muita coisa’ [“Enquanto o Mundo Explode”]. Ele era esse cara”, conta o baixista Alexandre Dengue, o antigo companheiro do Nação, em entrevista à revista Rolling Stone, em 2012.
Proveniente de origem humilde, Science se tornou uma referência em meio ao contexto político, social e cultural de Recife, nos anos 1990, se reinventando sem perder suas raízes. Conforme lembra Dengue, ainda à Rolling Stone, Chico possuía um admirável dom para a composição.
“Era incrível. As palavras viravam música naturalmente, era algo absurdo. Mesmo que não tivesse a letra, ele simplesmente assobiava a melodia e depois a encaixava”, afirma Alexandre Dengue.
20 anos de “Afrociberdelia”: a música além de seu tempo
Além do 50º aniversário de Chico Science, este ano também marca 20 anos que o álbum Afrociberdelia foi lançado pela Nação Zumbi. Lançado em junho de 1996, trouxe uma maior proximidade com o hip-hop e muitos samplers. Sob a produção de Eduardo BiD, o disco contou com a presença do baterista Pupilo como novo integrante da banda.
Para Miglioli, em entrevista ao Uol, Chico já estava olhando para o futuro, pensando em outras formas de construção coletiva em seu último registro.
“O disco também era uma maneira dele juntar, numa panela de pressão, um pouco de tudo que tinha visto na turnê internacional, onde ele e a banda tiveram acesso a discos, o que era a grande dificuldade da época. É bom lembrar que não tinha internet e que essa geração dos anos 1990, diferente da dos 1980, era uma galera que não tinha grana. É quando começam os movimentos periféricos”, afirma Miglioli.
Apesar de sua ausência, Chico Science continua, de certa, contribuindo ao Nação Zumbi por meio de sua influência, cabendo à banda a continuar o seu legado. Aliás, Science não só inspira os seus companheiros de banda, como também a inúmeros nomes do cenário musical brasileiro na atualidade.
Por Rock Music