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Preta Gil fala sobre seu novo trabalho, Todas as Cores


Cantora celebra 15 anos de carreira com novo trabalho, Todas as Cores, disponível em todas as plataformas digitais

Ela quase foi batizada como Pedra – seus pais achavam bonito esse nome, que combinava com o de seu irmão Pedro – mas um dia isso mudou e decidiram que se chamaria Preta.

Mas a filha de Gil e Drão (Sandra Gadelha) precisou passar pelo primeiro teste, o crivo do cartório que não aceitou registrar uma menina com nome da cor do ébano. Seu pai argumentou: “Mas tem Branca, Clara, Morena,… qual a questão com a menina se chamar Preta?”. Para resolver o impasse, o nome Maria foi acrescentado ao Preta e, assim, o mundo ganhou Preta Maria Gadelha Gil Moreira. E pronto, ela agora tinha um nome e um destino: ser diferente desde sempre.

Em Todas as Cores, o mais novo lançamento de Preta Gil, a canção “Vá se Benzer”, que defende ao lado de sua madrinha de batismo Gal Costa, salta aos ouvidos e provoca “Sou eu, diga aí quem é você?”. A letra fala de índio, branco, negro, de gay, de gueto, de pobre, homem, mulher… a música fala da diversidade que é o próprio Brasil e da “geleia geral” que forma a identidade mestiça e misturada que marca a vida, a plateia e a obra de Preta Gil.

Ao comemorar seus 15 anos de carreira, Preta traz à baila um álbum que traduz o que é e naquilo que acredita. Tem um dueto com a drag sensação Pabllo Vittar, um outro com a “patroa” Marília Mendonça, mais uma canção de sua “mana” Ana Carolina, além de uma penca de músicas que passeiam pelo reggae, o funkeado, o sertanejo, o latino, o pop, o samba, a MPB e o que tiver que servir de rótulo para traduzir um conjunto coeso e bem produzido de canções que foram produzidas pelas madrugadas insones ao longo de um ano no estúdio do DJ e hitmaker carioca Batutinha, que, assim como Preta, tinha vontade de mostrar o que ninguém estava esperando deles.

Entraram no estúdio sem pretensão, sem pensar em “disco” cheio, não sabiam onde iriam chegar ou quando lançar. Passado o tempo de uma gestação, Preta percebeu que tinha um bom arsenal de composições e canções que mereciam ganhar vida na forma de um álbum, mesmo que lançado ao mundo nesse mar de singles que gravitam em torno das tais plataformas digitais, “lyrics”, EPs, etc…

Midiorama – Preta Gil, 15 anos na carteira de trabalho de cantora, diz aí quem é você?

Preta Gil – Eu sou brasileira! Fui criada numa tribo de artistas fantásticos, tenho cabelo de índia, sou filha de negro, sou nascida no Rio, crescida nos carnavais da Bahia, subi no trio elétrico de Dodô e Osmar, vi crescer o axé, frequentei o Chacrinha, queria ser Frenética, andava em meio ao pessoal do rock, do pop, sonhava em ter uma mochila da Company e acabei aceitando um estágio com Nizan Guanaes. Trabalhei como produtora de clipes, de comerciais, tive meu filho cedo e quando acordei eu tinha passado dos 28 e não tinha parado para ouvir meu coração e encarar minha sina que era ser cantora, servir a música que enchia a minha mamadeira, os meus ouvidos e minha alma até então.Hoje sou avó de Sol de Maria, ela já brinca de cantar no microfone, sou mãe de Francisco que toca e compõe e posso dizer que tenho milhares de fãs que me fazem sair da cama e até mesmo nem dormir. Amo o que faço, sou grata.

Midiorama – Se preto é a ausência de cores e branco a união de todas elas, o que é Todas as Cores, seu novo trabalho?

Preta – É a mistura de tudo, é o resultado de tudo isso em mim, desses muitos caminhos e descaminhos, das muitas “porradas” que levei para ter o direito de ser quem sou, dizer o que penso. Todas as Cores representa exatamente o que eu acredito, nada é absoluto, o azul não é mais que o vermelho e se eles se juntam eles podem formar o roxo e por aí vai. É um disco que fala de amor, fala de aceitação do outro, fala que ninguém é mais que ninguém, que é tudo é válido, que devemos respeitar o vizinho.

Midiorama- Você parece ter sobrevivido a cada dia que precisou provar algo para alguém que tentou lhe impor seus padrões.

Preta – Sim! mas eu não me arrependo de ter feito o que fiz ou falado o que era verdadeiro em mim. Se eu estava nua na capa do meu primeiro disco é porque na nossa casa era normal andar livre, se eu dizia ser “total flex” era porque achava que era normal amar e experimentar o que cada um quiser, se eu me coloquei dentro da fantasia de rainha da bateria da Mangueira, era porque eu aceitava e amava ter o corpo que tinha. Nada do que fiz foi para provocar alguma reação, fiz o que me falou o coração. Assim, apresentei programas de auditório na TV aberta, sobre sexo na TV fechada, programas de rádio sobre a nossa mistura musical, representei uma mocinha em uma novela da Globo, uma mutante na Record, eu sempre estava de corpo e alma em tudo e me descobrindo. No caminho me deparei com perseguição, apanhei quando acordei e descobri que eu deveria me comportar de uma maneira X por ser “filha de ministro”. Fui e ainda sou alvo de haters mas aprendi no tranco, me fortaleci e hoje eu sei quem sou. Quem vai atrás do meu trio elétrico, do meu bloco é também como eu. Galera da paz e do amor mas que não dá mole para quem levanta a bandeira do ódio, do preconceito, das nóias e fobias. Sou livre e meu padrão é o da felicidade.

Midiorama – Como você se insere na cena musical, como enxerga a maneira que o público te vê?

Preta – Sou uma ponte, gosto de pensar assim. Eu falo com a minha geração e com quem tem metade da minha idade. Eu misturo, eu aproximo artistas, eu abraço a funkeira e a apresento pra Sertaneja, eu apresento o mestre da MPB ao novinho do pagode. Sou como uma praia carioca em um dia de 40 graus, todos são bem vindos, todos podem se divertir. Tudo que fiz foi sozinha, foi com minha equipe, nada foi “comprado”, construímos cada centímetro dessa jornada. Meu bloco nasceu da minha vontade de fazer um carnaval democrático, eu cantava em cima de um carro de som em forma de latinha de cerveja. No primeiro ano foram 30 mil, aos poucos chegamos a ter um milhão de pessoas a cada desfile. O público me vê como alguém que se confia os segredos, que se divide as dores, somos amigos. Estou longe de ser unânime mas posso dizer que sou de verdade.

Midiorama – Você se sente parte de uma competição com você e com os outros?

Preta – Não, a música não é olimpíada, não é premiação, é arte e expressão. Claro que queremos resultados, queremos ter quem nos dê apoio e aval e está cada vez mais difícil se manter nessa máquina de likes e deslikes, de “sim” e “não” , mas eu canto “Quer saber? Sou como sou”, então eu sigo meus instintos, meu coração.

Midiorama – A missão continua como?

Preta – Eu vivo cada dia, quero ver minha neta crescer, ainda quero ter mais filhos, vou cantar até quando eu conseguir. Mas estou muito interessada em passar uma mensagem positiva, principalmente de que não vale a pena odiar, não se deve desperdiçar a vida sem amar e respeitar o outro, se eu servir de canal da alegria para os meus e os outros a missão terá valido.

Midiorama – Então qual é a mensagem?

Preta – Vá se benzer! Agradeça a vida que Deus te deu, cuide do seu e faça pelo outro o que quer receber de volta. Ah, não deixem de assistir ao clipe que fiz com minha madrinha Gal. Vá se benzer! Fica a dica!

Por Horácio Brandão para O Povo


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