zoom

Robertinho de Recife e Metalmania: a genialidade não se perde com o tempo


Sabe aquelas pessoas que são iluminadas, que você acha “fora de série”?

As duas entrevistas foram feitas no ano passado e nós as reeditamos neste arquivo único, sendo uma delas em vídeo ( O Papo Heavy Metal que na primeira vez teve o formato de transcrição). Em homenagem a sua primeira passagem com um show fantástico que aconteceu em São Paulo no Sesc Belenzinho.

_MG_0781_1

Primeira Entrevista.

A ILHA DO METAL – Robertinho do Recife, bem-vindo ao site Ilha do Metal, e a primeira coisa que eu queria te perguntar na verdade é uma curiosidade sobre seu release do lançamento do Metalmania Back For More e seus problemas de saúde, e decidiu voltar em vista da proximidade da sua morte. Eu estava conversando com alguns jornalistas e eles não sabiam, então eu queria te perguntar o que aconteceu, o que te levou a essa volta sua aos palcos?

Robertinho de Recife – Bem, é, eu tive um infarto, acabei indo pro hospital com uma dor no peito e então no hospital o médico me informou que eu estava praticamente morto, com minhas funções cardíacas quase todas comprometidas. Eu estava só com 3% do coração funcional e eu coloquei seis stints, e todas as minhas vias estavam obstruídas, e… e naquela agonia ali ele falou para mim: “pelos aparelhos para mim você tá morto, cara, uma pessoa assim nessa situação tá morta. Só tem uma veia sua que tá mandando esses 3%”. Aí então naquele terrorismo todo dessa situação, pra mim ali era realmente o fim, e comecei a ver o depois: e se eu sair dessa? A gente acaba vendo o que vai fazer depois. Se questiona dos momentos bons e momentos ruins, aquela fase ali, só quem conhece a morte de perto sabe o que eu to falando, com os momentos difíceis ali na UTI, quando você passa por aquela porta, de “eu quero fazer um show”, aí depois daquele momento ali eu decidi transformar aquilo em um momento criativo. Já comecei a viajar no show e foi muito bom porque me ajudou muito nesse momento aí, me ajudou a me transportar daquele lugar terrível, e todo mundo que já esteve em uma UTI sabe que não é brincadeira e, parafraseando, “é uma ilha de sofrimento”, todo mundo do teu lado e você ali entre a vida e a morte. Então comecei a enfrentar aqueles momentos ali como uma coisa bacana e, depois dali, comecei a montar tudo, resolvi chamar o pessoal do Metalmania antigo, só que alguns estavam comprometidos com outros trabalhos e também não tinham passado pela mesma coisa que eu (risos). E então encontrei estes outros músicos e tem sido muito bom, eles estão com a mesma alegria, com a mesma garra e começamos a ensaiar apenas para alguns shows, um ou dois, e gravamos o disco pra eles ouvirem. Eu tenho um estúdio de gravação, no meu estúdio começamos a gravar tudo e a gente começou a gostar muito, então estava falando com o Bruno da Silva, que me disse: “Ah eu me amarro muito no Metalmania”, e eu disse “Não, isso aqui é só uma demo pra gente, estamos ensaiando aqui”, então ele disse “Ah então me dá uma aí” e no fim ele ouviu e disse “Bicho me amarrei nisso, vamos lançar”, e eu disse “Não, deixa eu melhorar isso” e ele respondeu: “Não, isso aqui tá pronto, vamos lançar isso aqui, é isso, cara”.

Depois disso, eu disse que só tinham nove músicas, mas ele disse: “nove músicas é um número legal, tem músicas de seis minutos aí pô”, aí eu perguntei: “Vai deixar desse tamanho mesmo?”, e ele disse “claro, não vamos tirar nada, disso tudo que eu ouvi tem verdade nisso aí, tem verdade, não é uma coisa super produzida”. Isso foi uma coisa que me convenceu. Passaram alguns dias, ele me mandou o contrato aí eu entendi que o negócio era sério. Ele falou: “vamos lançar para o mundo inteiro, para lançar pelo mundo inteiro vamos lançar por download”, e eu falei “ótimo”. Também vai sair em vinil, mas não agora, a gente vai esperar um pouco e vai ser uma peça para colecionador, mesmo porque o vinil é caro, vão sair objetos bonitos, com uma capa produzida, uma coisa que não é um álbum com uma lâmina só. Tem que lançar como um álbum que você abre… enfim uma coisa bacana, para colecionador mesmo. Muita gente reclama “ah, mas não vai lançar em CD”? Olha, eu não sou artista de CD, o Metalmania não tinha CD, eu não compro CD. Os CD que saíram foram coletâneas posteriores e o meu disco Rapsódia Rock, em CD não foi, o lance era o LP, que inclusive eu gosto muito mais.

E tem esse lance de que ser digital tem a melhor qualidade, no CD você vai cair na conversão e no LP não. Você vai ouvir a master direto, a pureza de uma pessoa fazer um download é maior do que a pessoa que for comprar um CD. É a primeira vez que eu to falando isso e então dizem: “Ah, o CD…”. Então, amigo, copia para o CD, todo mundo tem uma copiadora de CD, copie e pirateie, mas a gente tá vendendo o download, se bem que eu acho que como produtor também, eu falo para as pessoas que eu produzo que o download é um barato, o download não tem restrição física de armazenamento, é instantâneo, você pode comprar e ouvir em qualquer lugar do mundo, em qualquer aparelho que você quiser, desde seu celular ao seu computador, agora o disco você tem que levar e ter o tocador e… o download é a grande saída para o mercado, inclusive para o mercado dos metaleiros, pois os metaleiros são um público que utiliza muito o download.

_MG_0828_1

IM – Muito bom isso, é verdade, parabéns.

Robertinho – E isso pode ser muito bom para todos, e é uma coisa que eu estou batendo pé, não vou lançar (em CD), acho que eu sou o primeiro dentro desta corrente, todo mundo quer um cdzinho, quer fazer isso, aquilo… eu não quero, eu sou contra e estou lutando para não ter, entendeu? Mesmo porque eu acho que este formato está saindo, até porque algumas empresas já acham inviável a fabricação de players para CD, porque até os computadores estão vindo sem os players, o download é o futuro e isso aqui até o final do ano vai ter estabelecido isso, que é uma boa, que ninguém fique triste com isso, cada vez mais a gente tá tendo prazos maiores, para os artistas independentes. Eu, como produtor, sempre foco na galera. E o que eu pretendo também é o seguinte: fazer o show do Metalmania e uma série de festivais com o nome Metalmania. E essa marca minha muitos caras usaram aí… discos, coletâneas, todos com o nome Metalmania. Mas quem foi o primeiro a usar isso no mundo fui eu. Fica lá a prova e tá no registro (de patentes), o Metalmania. Então eu pretendo fazer o show com várias bandas de metal em cada estado, para que as bandas se mostrem e tenham uma estrutura bacana, porque eu sei, eu já fui banda de abertura e eu vou dar em primeira mão hoje, ninguém sabe, que só tá dependendo da gente caber no palco, que serão duas bandas grandes daqui do Rio de Janeiro, com duas bandas gringas e nós seremos a terceira banda, e estamos falando com Los Angeles, para saber como que fica essa logística nos palcos aqui do Rio, para nós 3 podermos dividirmos a coisa ali sem nenhum problema. Mesmo assim isso pode acontecer em outros estados, mas não posso lhe confirmar isso, mas no Rio também se não der eu não vou fazer, porque daí no fim sobra tudo pra mim no sentido de ter um palco só de dois metros, aí não dá nem pra colocar a bateria ali, entende? E quando a gente vai montar algo assim surge um monte de problemas, eu sei disso aí tu bota um Marshall e tem um metro pra tocar ali e eu toco alto, não dá pra ficar perto e com um espaço de um metro, eu tenho que andar, ir pros lados, senão eu fico surdo completamente, faço isso e saio dali e fico dois dias sem dormir com o ouvido apitando.

IM – Show de bola. A segunda pergunta, Roberto, a volta do Metalmania foi um dos motivos de você não ter voltado pro Yahoo (banda em que Robertinho fez parte nos anos 80)?

Robertinho – Não, não, o Yahoo foi uma coisa realmente de passagem, eu não teria mais razões para voltar pro Yahoo como eu tenho com o Metalmania. O Metalmania é o seguinte, é onde eu me divirto, é o meu trabalho.

IM – O amor é pelo Metalmania e tem que fazer o que gosta, né?

Robertinho – É, faz me divertir bastante, de estar tocando metal, de estar fazendo o que eu gosto, de me sentir feliz, sabe? Já me dei bem, agora não me interessa mais, eu quero chegar e fazer as pessoas felizes e eu feliz também.

Eu vou fazer show pra quem gosta de mim, quem gosta de metal e eu não sou uma unanimidade, embora eu seja muito bem recebido, seja muito feliz, a resposta que eu estou tendo da mídia, cara que impressionante, todos os jornais, de lugares como o Pará, me deram a primeira página. E não tem nenhuma crítica negativa, pelo contrário, eu fico muito feliz entendeu? Porque é assim, eu não sou uma unanimidade e também não gostaria de ser, eu sou humano, pô. Ser uma unanimidade seria algo muito difícil.

_MG_0839_1

IM – E você já adiantou uma pergunta que eu iria fazer no final para você. Por que você ficou apenas no instrumental? A gente tem algumas exceções de guitarristas, como o Marcio Sanches e o Tiago Correia, que acabaram de lançar dois discos de metal instrumental. Mas o que eu queria perguntar pra você e você já respondeu, é que você faz porque gosta mesmo.

Robertinho – E nesse tipo de trabalho instrumental é o seguinte: eu não poderia voltar com o Metalmania antigo, fazer um revival, tocar tudo igual. E daí as pessoas me perguntam se vou tocar tudo igual, sabe? As músicas antigas eu vou tocar, mas eu sei que tem histórias novas pra contar, músicas que não tinham sido gravadas quando saiu o Metalmania, e depois do Rapsódia eu não tive chance de tocar, porque daí eu montei meu estúdio e depois do Rapsódia eu não tive chance de gravar. Agora deu. Pensei assim: vou pegar aquilo lá que é bacana e… deu pra gravar, porque a guitarra é a minha cantora, a guitarra é a cantora da banda. Com todo respeito que eu tenho aos vocalistas, mas tava difícil achar alguém que cante igual a ela (guitarra).

IM – Sensacional, sensacional mesmo ouvir isso. Eu tenho uma dúvida: todos dizem hoje em dia que o rock ficou datado, que o rock morreu e etc. Como produtor, você concorda com isso?

Robertinho – De modo algum. O rock nunca perdeu a magia, especialmente o metal. O metal jamais vai morrer, porque o metal tem vida própria, o metal não precisa da mídia, você vê o Monsters of Rock aí que lotou, qual é o outro formato musical que vai fazer um festival deste porte? Não tem, metaleiro não é drogado ou bobão, entendeu? Tem gente que vai e usa, eu não ligo. Quem quiser usar e fumar fica à vontade, mas não é onda do metaleiro. Em show de metaleiro não tem briga, não tem morte, metaleiro é inteligente, sabe? Tem que acabar com isso sabe, somos inteligentes. Todos os outros segmentos têm que ir e respeitar, porque as pessoas estão fazendo as coisas sem precisar pra artifícios ilegais, de marketing e essas coisas. E sabe porque? A cada dia estão aparecendo mais músicos bons tocando, cara, eu fico impressionado como tem guitarrista bom no metal. Claro que nos outros estilos também tem, mas a gente vê a evolução da guitarra muito mais positiva no metal. Pegando um exemplo: o blues. Eu fui para o Mississipi, e lá eu não vi nenhum novo cara de blues que impressione como tem no metal. O último que apareceu foi o Stevie Ray Vaughan, pronto, acabou. E, assim, ainda de uma certa maneira, porque pra mim a maior música de sucesso que ele tocou foi Little Wing, que é Hendrix, saca? Então, enfim, eu não quero ofender guitarristas de outros estilos, mas no metal há revolução, mas muita, muita. Você já vê criancinhas já tocando coisas, criancinhas de oito anos arrebentando, você já viu o japonêzinho tocando já?

IM – Sim, impressionante.

Robertinho – O que é que é aquilo, cara? Eu comecei com dez anos, mas aquilo é impressionante. O garoto tocando coisas do Randy Rhoads que é um dos meus guitarristas preferidos, até porque o cara era RR e eu sou RR também (risos). Pô, o cara era baixinho, pequenininho, então, eu sou apaixonadão pelo Randy Rhoads, claro que tem o Van Halen. Eu sou um apaixonado pela guitarra, pelas pessoas que fazem um trabalho bonito, deram suas vidas para aquilo e cada vez mais fizeram outras pessoas se apaixonarem pela guitarra. A gente se diverte pra caramba e eu sou muito fã, sou fã de todos, inclusive de brasileiros, não vou citar nomes inclusive porque eu tenho medo de esquecer algum que me inspire, porque são muitos. Em cada estado no Brasil, tem uns duzentos.

IM – É verdade.

Robertinho – E eu penso em juntar todo esse povo, um grande concerto no Maracanã, juntar uns cinco mil, dez mil, dentro do Brasil e mostrar aqui, que o Brasil é a terra da guitarra, não é só a terra do tamborim.

_MG_0812_1

IM – Eu geralmente entrevisto algumas pessoas internacionais e elas não falam do samba, a primeira coisa que elas falam é da alegria do povo brasileiro, a energia que devolve para vocês no palco, né? Eu acho que chega a ser impressionante.

Robertinho – Claro, claro, e os maiores shows que essas bandas fizeram foram aqui no Brasil e é assim, o cachê que eles recebem lá fora não é o mesmo que o Brasil paga. A Ásia vai pagar o mesmo que aqui? Não vai. A China vai pagar o mesmo que aqui? Não vai. A Argentina vai pagar o mesmo que aqui? Não vai. Os maiores cachês estão aqui no Brasil, os cachês internacionais, acabou. E isso tem sentido, por isso que eles vêm pra cá felizes.

IM – Mas é claro (risos). Queria perguntar sobre o guitarrista Robertinho do Recife, que é considerado um dos maiores guitarristas do Brasil. O que você acha que diferencia você de outros guitarristas?

Robertinho – Cara, isso é um título que eu não gosto sabe? Porque leva a gente para um estado que “oh”. Eu não posso ser injusto sabe, porque tem outros melhores sabe, também não vou citar nomes para não ser injusto, mas isso me dá uma responsabilidade que eu não gosto de ter, porque eu não fiz minha carreira para ter tal título, não fiz nada para pleitear algo deste tipo. Muita gente pensa isso, pensa que a gente tá ali só pra ganhar dinheiro, só agora que eu percebo que esses detratores ficaram meio caladinhos sabe, porque minhas intenções sempre foram outras, tava querendo fazer o melhor sempre, ter a premissa de fazer sempre o melhor que eu posso, pra mim e para quem está ouvindo, para quem está me acompanhando. E as vezes eu me impressiono muito, com as intenções, porque as pessoas ficam achando algumas coisas, e ficam lhe podando o tempo inteiro, e daí eu sempre tive intenção as vezes de querer tocar outras coisas, daí elas ouvem e falam: ah, isso é Van Halen, ah, isso é outra coisa. E eu penso que não, que tem Robertinho de Recife no meio desse caldeirão todo, e eu não vou negar que eu peguei técnica de outros guitarristas, mas eles pegaram isso também de outros, e é assim que você vai adquirindo fluência, experimentos dos outros, fórmulas, e transformando e adequando aquelas fórmulas, traduzindo. Não existe nada completamente original, você pode me mostrar qualquer guitarrista que ele não é totalmente original, até mesmo os Blues King, só se o cara for do Polo Norte, era esquimó, não ouviu nada na vida, aí você pode falar que aí sim, mas aí dá discussão para muito tempo.

IM – Roberto, muito obrigado por responder essas perguntas por tanto tempo, muito obrigado pela entrevista, eu queria lhe pedir para mandar uma mensagem para todos os seus fãs, de São Paulo, do Brasil, que vão ler e que vão ouvir esta entrevista, muito obrigado, estou muito feliz com a volta do Metalmania, e da oportunidade de mandar uma mensagem para todos os seus fãs.

Robertinho – Ola galera incrível que têm me acompanhado, estou muito feliz com essa proatividade que vocês estão tendo com o novo Metalmania, principalmente os paulistas, pessoal de São Paulo no Facebook, eu fico muito feliz por sempre trabalhar para merecer e fazer com que vocês curtam mais e mais o nosso trabalho. Obrigado, obrigado A Ilha do Metal pela oportunidade de chegar aí e poder divulgar o meu trabalho, de conversar e falar alguns tópicos que eu só posso fazer com veículos como A Ilha do Metal.

A segunda também já divulgada e agora o link em vídeo do Papo Heavy Metal com Robertinho de Recife.

Robertinho de Recife.. MUITO OBRIGADO POR TUDO!!!!!

Por A Ilha do Metal


Deixe seu comentário


Envie sua matéria


Anexar imagem de destaque