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Saiba como foram os shows do Muse no Brasil


Veja o que rolou nos shows do Muse no Rio e em São Paulo (Foto: Vinicius Pereira)

No Rio, show intenso e psicótico

Matt Bellamy é um jovem tímido, boa pinta e muito talentoso. No entanto, ele parece querer convencer as pessoas de que o mundo vive em uma espécie de teatro da loucura – levado por ideias doentias e tecnologia em fúria. Mesmo que sua teoria seja obra de uma mente fantasiosa, os fãs embarcam na onda, e o Muse se utiliza desse roteiro com muita desenvoltura para fazer de um simples show de rock, uma genial obra de insanidade coletiva.

Dois anos depois da épica apresentação no Rock in Rio, o grupo retornou ao Rio de Janeiro para um número mais intimista. Em um show curto, porém intenso, a banda entorpeceu os fãs com sua proposta psicótica, baseada em luzes sensacionais, imagens subliminares e som musculoso. Como era de se esperar, o repertório foi quase o mesmo apresentado nos últimos shows, com a inclusão apenas de “Muscle Museum” – do ótimo disco de estreia do grupo – no lugar de “Citizen Erased”.

Já no início, o que chama a atenção não é o riff hipnótico de “Psycho“, e sim, a reação do público – que se concentra em um personagem no telão, respondendo o mesmo com um sonoro “Aye, Sir!”. Parece paranoia, mas é sensacional. E isso continua por toda a canção, causando uma espécie de interatividade rara entre público-telão (algo não visto desde U2). Em seguida, mais uma do disco novo (“Reapers“), e a já batida – porém indispensável – “Plug in Baby“. Do novo disco, Drones, também ganham destaque na noite: “Dead Inside“, e seu solo cheio de pinceladas à la Brian May; e “Mercy“, que foi pedida pelo público em forma de pequenos cartazes. Outra música que ganha destaque ao vivo é “Madness“, que pode ser considerada o hino perfeito para definir o show insano do grupo.

A apresentação do Muse é coesa e repleta de momentos altos. A banda é muito boa tecnicamente, e se sobressai na habilidade de Bellamy com sua guitarra (cheia de furinhos) em músicas como “Hysteria“, ou no superhit “Supermassive Black Hole” – que incluem citações a Jimi Hendrix. Outro que também se destaca bastante durante o show é Christopher Wolstenholme, que vira e mexe, vai lá na frente, distribui palhetas, gaita e mantém pegada sempre firme.

Antes do bis, “Uprising” encheu o HSBC Arena de balões pretos, que ao serem estourados, faziam voar papéis picados. Mas nada comparado ao show de confetes e serpentinas em “Mercy“, rendendo imagens apoteóticas. Fechando a noite, a já esperada “Knights of Cydonia“, com suas passagens épicas e progressivas, com direito a solos cantados pelos fãs.

O público, que não lotou a casa, pelo menos fez presença, cantando todas as músicas e fazendo coral para o grupo. Mesmo conhecendo a fama do Muse, que não costuma modificar o roteiro de suas apresentações, faltou um pedido de bis – nem que fosse para testar a banda (ficando desde já, uma sugestão ao público de São Paulo) – pois um show dessa grandiosidade não pode passar sem a dignificação do clássico “mais um”. Não mesmo.

Em São Paulo, prova do Enem atrapalha, mas o grupo justifica fama de “banda de arena”.

O Muse fez poucas, mas significativas mudanças no setlist. “Apocalypse Please” foi substituída por “Resistance”, recebida com grande aprovação do público e que ajudou Wolstenholme com os backing vocals para os versos “It could be wrong, it could be wrong”. No Rio de Janeiro, a banda atendeu ao pedido que fãs vinham fazendo por redes sociais e substitui a climática “Citizen Erased” pela melodiosa “Muscle Museum”, que há muito tempo não entrava no repertório da banda. Em São Paulo, eles tocaram as duas, mas deixaram de fora a excelente “Hysteria”, que vinha sendo tocada em todos os shows da turnê.

As instrumentais “Unsustainable” e “Munich Jam” (baixo e bateria) quase colocaram o Allianz Parque no chão, com um poderio de fogo para que ninguém duvide que trata-se de uma banda com uma indiscutível veia rock’n’roll bastante modernosa.

Mesmo sem estádio completamente lotado, o Muse provou que é uma banda que sabe entreter seu público e fazer um show de respeito, embora engessado no formato que vem sendo reproduzido desde o início da turnê. Claro que poderia ter sido um show mais longo, mas uma hora e meia de apresentação representou bem a discografia do grupo e a força do trabalho mais recente dos ingleses. Se não fosse no mesmo dia do Enem – ou o alto preço do ingresso em tempos de crise – poderia ter sido um espetáculo ainda mais expressivo.

O início do show foi marcado pelas pesadas “Psycho” e “Reapers”, seguidas pela clássica “Plug In Baby” e seu refrão que fez todo mundo pular e cantar junto. Na arrastada “The Handler”, uma das mais pesadas do álbum Drones, Matt se aproximou da plateia usando a passarela.

Por falar nisso, Matt, Dom e Chris se comunicaram muito pouco com a plateia por meio das palavras, mas seus instrumentos falaram por si. O momento de melhor diálogo entre público e Matt se deu antes de “Plug In Baby”, quando o guitarrista começou a fazer curtas frases na guitarra que eram respondidas pelos fãs, aumentando de intensidade até chegar ao característico riff inicial da canção, que foi cantado nota por nota pelos presentes.

A galera presente no Allianz recebeu muito bem o show desta nova turnê, e fez bastante barulho – seja cantando riffs de guitarra das músicas mais conhecidas ou fazendo verdadeiros corais em músicas mais leves, como foi possível ver em “Madness” e “Starlight”, mas também em “Dead Inside” e “Mercy”. Já “Supermassive Black Hole”, “Time Is Running Out” e a épica “Knights Of Cydonia”, três das preferidas e das mais conhecidas dos fãs, conseguiram o resultado de sempre: soar ótimas ao vivo e fazer pular até quem não é tão fã do grupo.

Por Bruno Eduardo (RJ) e Lucas Scaliza (SP), Rock On Board


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